A sigla ASG (Ambiental, Social e Governança) é um dos tópicos mais recentes a serem incorporados nas avaliações de investimentos, sejam ativos ou fundos, bem como na atuação de gestores. Com o avanço da agenda ASG, há um esforço dos diversos setores e participantes em promover convergência e estabelecer consensos em torno da terminologia utilizada em finanças sustentáveis. Segundo o Guia ASG II da Anbima (p. 79), ASG pode ser definida como: 'Informações ambientais, sociais e de governança (ou ESG, em inglês). Trata-se de um conjunto de dados e temas que podem se manifestar em nível sistêmico (por exemplo, alterações climáticas ou perda de biodiversidade), nacional (por exemplo, legislação de apoio à inclusão e diversidade), do setor (direitos humanos em cadeia de suprimentos) ou do ativo financeiro, geralmente uma companhia (por exemplo, política de gestão de águas e de reutilização de materiais). Conseguir identificar os elementos ASG que compõem cada um desses níveis de análise é uma ferramenta importante para detectar, prevenir ou mitigar dinâmicas e comportamentos. Uma companhia tem características financeiras e características ASG que influenciam seu perfil de risco e sua performance financeira. Elementos ASG podem, por exemplo, impactar a estratégia, a governança, as operações, os produtos e as partes interessadas.
Tabela 1 (Informações ASG):
Fonte: Guia ASG II Anbima (2022).
No que diz respeito às estratégias de alocações de ativos, é importante ter conhecimento de alguns dos principais termos utilizados nas análises ASG.
- Exclusões: remoção de setores ou empresas do universo de investimento de portfólios específicos. Comum em países desenvolvidos;
- Fundos Temáticos: Compreendem os investimentos em questões ASG específicas, por meio de fundos temáticos, abrangendo questões desde mudanças climáticas à eficiência energética, florestas e água. Foco no desenvolvimento sustentável;
- Filtro Negativo: Refere-se à exclusão de investimentos (em países, setores, empresas ou projetos) de acordo com critérios ASG, refletindo valores éticos do gestor/investidor, ou por não cumprirem normas mínimas estabelecidas por organizações internacionais ou nacionais. Um exemplo são os setores que figuram entre os mais evitados pelos investidores, devido ao alto risco social e ambiental. São eles: armas, tabaco, energia nuclear, pornografia, apostas e bebidas alcoólicas.
- Filtro Positivo: Tem as mesmas características do negativo, só que, ao invés de excluir ativos, são incluídos aqueles que atendam os critérios e as normas estabelecidas. Além disso, existe uma forma alternativa nesse tipo de estratégia, o investimento temático. Dentro dele, são estabelecidos temas específicos, normalmente relacionados à sustentabilidade, para serem realizados os investimentos. Por exemplo, ao definir que a redução da emissão de carbono é um tema importante, são selecionados países, setores ou empresas que apresentam alguma política ativa de redução de emissão de carbono para receber o investimento.
- Best-in-Class: Esse é um outro modelo de filtro positivo, com a diferença que funciona como um ranking. São selecionados critérios ASG para a avalição de um determinado setor ou projeto e, a partir dessa análise, são definidos os melhores em relação aos seus pares para receberem o investimento. Geralmente, esse tipo de análise consegue capturar possíveis vantagens competitivas entre empresas do mesmo setor, por exemplo, do varejo que têm políticas de inclusão e diversidade no trabalho podem atrair mais clientes do que aquelas do mesmo setor que não as possuem;
- Integração: Inclusão explícita de riscos e oportunidades derivados das questões ASG na análise financeira tradicional e processo de tomada de decisão de investimentos;
- Engajamento: ativismo acionário é o fundamento da estratégia de engajamento, que usa o poder de voz e o poder de voto do investidor para induzir a adoção de melhores práticas ASG na estratégia e gestão das empresas investidas;
- Screening baseado em normas: Baseada na avaliação das questões ASG de companhias investidas com base em critérios ou princípios específicos. A consideração de normas como o Pacto Global das Nações Unidas, Diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais e tratados internacionais podem ser adotados como framework de avaliação deste tipo de investidor;
- Investimento de Impacto: Estratégia mais recente de investimentos responsáveis (2007), trata de um guarda-chuva transversal a diversas classes de ativos. Visa à canalização de recursos para o financiamento de organizações ou empreendimentos sociais que buscam atacar desafios sociais específicos a partir de mecanismos de mercado.
- Materialidade: Corresponde ao impacto que diferentes fatores ambientais, sociais e de governança têm sobre o desenvolvimento, o desempenho financeiro e a posição de uma empresa ou setor.
Consideração de questões ASG:
É o processo que agrega políticas, práticas e/ou informações, e dados referentes a temas ambientais, sociais e de governança corporativa nos modelos de análise financeira e de risco. No caso dos fundos, são aqueles que consideram questões ASG em suas políticas de investimento no alcance de seus objetivos diversos, como uma identificação e gestão de riscos mais ampla e qualificada ou o reconhecimento antecipado de oportunidades de destravar valor financeiro e de geração de lucro - ainda que não tenham o objetivo de alcançar, de forma intencional, metas ambientais, sociais e/ou de governança. A incorporação de fatores ASG na política de investimento do fundo complementa as avaliações tradicionais, ao destacar os riscos que não são capturados pela análise financeira tradicional, principalmente os de longo prazo, tornando o diagnóstico mais robusto e eficaz.
Visão Holística:
Corresponde à incorporação de políticas, práticas e informações ASG em processos de investimento possibilitando que o gestor tenha uma visão mais precisa e integral de todos os impactos (riscos e oportunidades) dos seus investimentos (ampliando a capacidade de gerar valor financeiro e não financeiro). O conceito engloba, também, a ideia de 'dupla materialidade', ou seja, como uma empresa vai impactar questões ASG e como fatores ASG reverberam na companhia.
Definição e mensuração de objetivos em sustentabilidade e alinhamento da carteira:
Ainda que cada fundo possa selecionar diferentes objetivos e as metodologias associadas, estes poderão incluir, especificamente:
- Objetivos relacionados à geração de impacto positivo por parte do gestor e suas externalidades positivas. Esse impacto positivo pode ser mensurado ou estar alinhado com a Agenda 2030 e os ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), com o Acordo de Paris de 2015 ou qualquer outra métrica ou taxonomia reconhecida por entidades nacionais ou internacionais;
- Objetivos relacionados à identificação e à mitigação dos impactos adversos sobre os fatores de sustentabilidade decorrentes de investimentos, evitando-se danos ou degradações;
- Objetivos relacionados à melhoria das credenciais de sustentabilidade das empresas investidas, por meio de ações de engajamento ativo, guiadas pela aplicação de planos de ação sistemáticos e pela utilização de métricas qualitativas ou quantitativas.
Estabelecidos os objetivos, a carteira de investimentos do gestor deve apresentar um alinhamento com ele, seja temática ou metodologicamente.
Engajamento Corporativo:
O engajamento corporativo, também chamado de ativismo corporativo e que tem como base a utilização da participação acionária que os investidores detêm para influenciar a estratégia da empresa na adoção de políticas ASG, é uma atividade fundamental na gestão de um fundo IS. É o modelo que mais se adequa a uma gestão ativa de investimento. É visto como uma alternativa ao desinvestimento: ao invés de vender ativos de empresas que não adotam políticas ASG ou que têm dificuldades em atingir metas de sustentabilidade, os investidores mantêm sua participação e tentam persuadir a companhia a adotar melhores políticas em temas socioambientais.
Esse engajamento também é possível para investidores de renda fixa. Detentores de títulos de dívida podem se envolver com companhias, tanto investment grade quanto high yield, de forma reativa (mitigando problemas) ou proativa (definição e atendimento de metas). Essas atividades de engajamento podem fornecer mais informações sobre as empresas ou entidades subjacentes, melhorar a transparência e influenciar as práticas de negócios e de sustentabilidade.
Referências:
Guia ASG II Anbima: Aspectos ASG para gestores e para fundos de investimento. Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais, 2022. <https://www.anbima.com.br/data/files/93/F5/05/BE/FEFDE71056DEBDE76B2BA2A8/Guia_ASG_II.pdf>