Resumo
Heurísticas são atalhos mentais que facilitam a tomada de decisões, porém, estas podem estar viesadas, gerando atos em certos casos "irracionais" do ponto de vista mainstream. Temos as Heurísticas de, Disponibilidade : decisões baseadas em experiência próprias, subvalorizando o que não esta disponível; Representatividade: decisões baseadas em atos passados, que por sua vez podem levar a imprecisões dados diversos contextos; Ancoragem: decisões baseadas em Valores passados; Aversão a perda: decisões que levam uma demora a aceitar a perda e euforia com pequenos ganhos; Ilusão de controle: decisões são tomadas baseadas na ilusão de controle; Conservadorismo: decisões demoram a ser tomadas, mesmo quando esta clara a situação, gerando perdas devido a demora para o ajuste de expectativas e tomada de decisão.
Texto
Finanças Comportamentais
Trata-se de um campo que se tornou mainstream em pesquisas sobre o efeito de fatores emocionais, cognitivos, psicológicos, econômicos e sociais nas decisões individuais e institucionais, apresentado, consequentemente, uma abordagem particular sobre alocação de recursos, retornos, preços de mercado etc.
Parte do sucesso de finanças comportamentais provém da contestação da hipótese do comportamento racional de agentes e de mercados (finanças modernas), por procurar demonstrar a racionalidade como um caso particular e a racionalidade limitada como um aspecto geral. Nessa perspectiva, assume-se que os indivíduos às vezes agem como homens econômicos racionais; em outras situações, todavia, seu comportamento é melhor explicado pela Psicologia. Entre os desafios associados aos agentes racionais, podemos incluir:
- A tomada de decisões pode ser errônea, seja pela falta de informações ou falhas no processo de tomada de decisão;
- Os conflitos internos e pessoais que priorizam os objetivos de curto prazo, como gastos gerais, em detrimento de metas de longo prazo, como manter uma poupança, podem implicar uma má priorização;
- A falta de conhecimento perfeito do conjunto de informação, que talvez seja o desafio mais grave para a hipótese do homem econômico racional. Por exemplo, quantas pessoas podem avaliar adequadamente os impactos de uma mudança na política do Banco Central sobre a sua riqueza futura;
- As funções de utilidade da riqueza nem sempre são côncavas, como é assumida pela teoria da utilidade, e os indivíduos às vezes podem exibir comportamentos de propensão ao risco, entre outros.
Heurísticas
As respostas automáticas que tomamos em situações que envolvem elevadas quantidades de informações são denominadas heurísticas. Nesse contexto, heurísticas são atalhos mentais que facilitam a tomada de decisão. De um modo geral, a utilização de heurísticas não resulta em decisões ruins. Pelo contrário, elas facilitam a realização de escolha. Todavia, o grande problema das heurísticas é que elas podem levar ao surgimento de vieses, fazendo com que a capacidade de tomada de decisões seja limitada, o que resulta em escolhas equivocadas.
Heurística da disponibilidade
Essa heurística mostra que as pessoas determinam a probabilidade de ocorrência de um evento com base em sua experiência passada. Isto é, elas não utilizam dados estatísticos nem buscam informações externas para definir o quanto um evento é provável, mas sim a sua própria experiência. Dessa forma, se uma pessoa, por exemplo, nunca tiver conhecido alguém que tenha tido problemas cardíacos, ela pode subestimar a probabilidade de ocorrência desse evento, adotando hábitos pouco saudáveis. Por outro lado, se ela tiver conhecido várias pessoas com esse problema, poderá superestimar sua probabilidade de ocorrência, adotando, por conseguinte, hábitos mais saudáveis.
Um exemplo clássico dessa heurística se refere ao furacão Katrina. Antes desse furacão, os norte-americanos não reforçavam as suas casas contra inundações e poucos adquiriam seguros contra esse evento climático. Após a sua ocorrência, no entanto, eles passaram a sobrestimar a sua probabilidade, adquirindo mais seguros e realizando reformas em suas casas a fim de torná-las mais seguras.
Observe que a probabilidade desses eventos não se modificou; o efeito de disponibilidade, contudo, aumentou a percepção da probabilidade, de forma que alterou as escolhas realizadas.
Heurística da representatividade
Essa heurística mostra que os agentes tendem a avaliar um novo evento com base em eventos passados. Isto é, no novo evento, eles identificam padrões que possam assemelhar-se a situações enfrentadas anteriormente. Uma vez identificados os padrões, eles tomam a mesma decisão, considerando que, se esta decisão tiver funcionado anteriormente, também será válida para o novo evento. Além disso, essa heurística pode resultar em erros consideráveis, pois a presença de similaridade faz com que informações importantes sejam negligenciadas em virtude daquelas que podem ser identificadas e adequadas a padrões com maior facilidade.
Heurística da ancoragem
De acordo com a heurística da ancoragem, os indivíduos apresentam sensibilidade no que se refere às informações recebidas, o que dificulta a tomada de decisões racionais. Já conforme a teoria neoclássica, os indivíduos, sendo dotados de racionalidade, conseguem utilizar todas as informações existentes, atribuindo o mesmo peso e não sendo sensível a uma informação específica. Porém, a heurística da ancoragem mostra que, na verdade, os indivíduos são sensíveis às informações recebidas, atribuindo maior importância às informações recentes. Adicionalmente, ela argumenta que os indivíduos tendem a utilizar apenas informações recentes para avaliar as alternativas. Ademais, como eles apresentam dificuldade em guardar números, acabam sendo influenciados pelos valores oferecidos.
Uma âncora é um valor oferecido que pode distorcer as decisões dos indivíduos. Trata-se de uma estratégia amplamente utilizada pelo comércio para a venda de sapatos, bolsas, joias, imóveis e refeições. Nesse sentido, os restaurantes considerados mais renomados costumam apresentar pratos com valores muito elevados. Por exemplo, um prato de frutos do mar pode custar até mesmo R$ 500,00 nesses restaurantes. Nesse contexto, quando os consumidores observam o menu, os pratos de R$ 50,00 ou R$ 100,00 podem ser considerados baratos. Assim, ao comparar os preços de R$ 500,00 e R$ 50,00, o consumidor considera válido pagar o segundo valor, mesmo que esse prato custe apenas R$ 20,00 no restaurante ao lado. Isso porque o prato de R$ 500,00 já ancorou as expectativas do consumidor, aumentando a sua propensão a gastar.
Heurística de aversão à perda
Esse viés já foi bem discutido anteriormente. Surge quando o efeito de uma perda é maior que o de um ganho igual. Nesse contexto, as consequências e implicações da aversão à perda podem incluir a sensação de menor prazer em um ganho para um mesmo valor em relação à dor de uma perda com valor igual. De modo a evitar essa dor, um investidor tenderá a manter os investimentos perdedores por muito tempo, mas poderá vender os vencedores rapidamente.
O investidor poderá realizar muitas negociações ao vender os pequenos ganhos, o que aumenta os custos de transação e reduz os retornos. Além disso, eles poderão incorrer em excesso de risco, pois continuam a manter ativos que se deterioraram no que se refere à qualidade e, consequentemente, perderam em termos de valor. Nesse sentido, quando houver prejuízo, o investidor passará então a assumir riscos excessivos com o objetivo de recuperar o investimento inicial. Além disso, o enquadramento de um ponto de referência que determina se uma situação é de ganho ou perda pode se somar a esta heurística.
Heurística de conservadorismo
Essa heurística diz respeito a situação de demora para tomada de decisões, mesmo que em situações em que as decisões que deviriam ser tomadas estão claras. Ou seja, nesse contexto há uma imperfeição de mercado, dada a demora para o ajuste de expectativas, e consequentemente, de tomada de decisão. Numa situação em que ocorre alguma alteração de preços de ativos, ao invés de incorrer no efeito manda, que também é prejudicial, o agente demora a tomar sua decisão, e acaba por deteriorar ainda mais seu ativo. Veja que a diferença da aversão a perda é que nesta, o investidor acredita na melhora, recusando-se a aceitar a perda, enquanto no conservadorismo, a não tomada de decisão se dá mais pela demora de ajuste de expectativas.
Heurística de Confirmação
Essa heurística ocorre quando o agente já possui um viés, e dá muito mais importância as informações que confirmam o que acredita, ou seja percepção está enviesada, não sendo racional. Temos como um exemplo, uma situação de um investidor, que acredita no potencial de certa empresa, independentemente de seu motivo particular. Ocorre que, essa empresa não está passando por bons momentos, porém, o investidor ignora essas informações, e lê somente o portal que fala das qualidades dessa empresa, por exemplo, sempre buscando por confirmação de suas opiniões, algo que não é considerado racional, no âmbito de finanças comportamentais.
Heurística de Ilusão de Controle
Essa heurística diz respeito a situação na qual, um agente imagina que possui controle sobre as ações de uma empresa, por exemplo, a empresa na qual ele trabalha. Não há problema nisso num primeiro momento (investir na empresa onde trabalha), mas o problema se encontra, a partir do momento que o agente acredita que os resultados de seu ativo, podem ser alterados por ele. Veja que existe a irracionalidade, dado que o investimento não ocorre porque se acredita na qualidade da empresa, mas na realidade, acredita em si, porém, obviamente, não há como pautar o desempenho de toda uma empresa, baseado em um agente, por isso, sendo um erro cognitivo em finanças comportamentais.
Heurística de Hindsight
Essa heurística é conhecida pelo conceito de “engenheiro de obra pronta”, ou formalmente, quando um agente acredita que os resultados de certa ação eram previsíveis, isso, após o ocorrido. Veja que esse viés por si só, não influencia na decisão do investimento em si, porém, pode gerar certa apreensão, ou mesmo, um certo excesso de confiança (Aquele que acha que sempre acerta, quando investir de fato, estará muito confiante). Um exemplo de Hindsight seria dizer que o caso Americanas era previsível, caso olhasse com atenção ao balanço divulgado, algo que não podia ter sido previsto, mas que, quem possui esse viés, possivelmente, afirmaria algo desse tipo.
Heurística de Framing
Essa heurística diz respeito a forma como se recebe as informações, de forma que haja uma falha entre o recebimento e o processamento da informação, e isso pode ser do próprio agente, ou uma forma maliciosa de manipulação. Se trata, basicamente, de receber de forma distorcida a informação, como uma espécie de eufemismo, transformando uma informação de forma a torna-la mais agradável. Um exemplo claro, é a divulgação de dados, temos um Framing quando, ao invés de dizer “existe a chance de 60% de dar errado”, pensa-se ou divulga-se “a chance de acerto é de 40%”. Veja que o dado é o mesmo, mas a perspectiva trazida nessas duas formas de divulga-lo não, gerando uma certa distorção na racionalidade dos agentes, a depender dos mesmo.
Saiba que existem diversas heurísticas “catalogadas”, porém, estas são as mais cobradas e importantes de se conhecer. Não se assuste caso encontre alguma outra, sempre busque responder questões alternativas através de eliminação.
Referência Bibliográfica
ASSAF NETO, Alexandre. Mercado financeiro 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008.