A alocação de ativos estratégicos é uma resposta da interação entre as necessidades estratégicas, as políticas e as expectativas do mercado de capitais de longo prazo do investidor. Nesse contexto, os objetivos do investidor são expressos em termos de restrições e objetivos que constam no IPS. Geralmente, a alocação em si é especificada em um intervalo de porcentagens, por exemplo, uma alocação estratégica para títulos de renda fixa de 30% a 40% de modo que, se a percentagem efetiva situar-se fora desse intervalo, a carteira precisará ser rebalanceada. Fora isso, o reequilíbrio pode ser desencadeado por mudanças de preços de ativos normais, as quais geram variações na cesta de ativos que se desviam de seus pesos-alvo.
Existem algumas formas diferentes de abordar o rebalanceamento de carteiras, como o buy and hold, o CPPI e o Constant Mix. Em termos de IPS e gestão de carteiras de clientes, o mais utilizado é o Constant Mix, por ser o método que busca manter a proporção entre os ativos, sendo compatível com a busca pela correta exposição ao risco nos termos definidos pelo IPS - isto é, caso ele determine a manutenção dessas proporções e até que seja modificado pela reavaliação do profissional e do investidor.
Se ao portfólio for permitido um distanciamento indefinido, os ativos mais arriscados na carteira tenderão a assumir peso crescente. Por exemplo, à medida que aumenta o valor das ações em um portfólio, eleva-se a proporção desse portfólio que elas representam, o que implica maiores riscos. Apenas pelo rebalanceamento da carteira, através da venda de ações e compra de títulos de dívida, o portfólio retornará ao risco e retorno especificados no IPS do investidor.
O rebalanceamento de carteiras também fornece disciplina, pois o investidor pode identificar ganhos significativos na parte do patrimônio líquido da carteira e afirmar: quero “deixar andar”. Além disso, o desempenho de sucesso temporário pode levar o cliente a reagir às condições do mercado temporário ao invés de seguir uma abordagem disciplinada a longo prazo. Essa atitude também pode ter como consequência o fracasso ao receber os ganhos de títulos temporariamente sobrevalorizados antes que eles voltem aos seus verdadeiros valores. Isso pode ser considerado um custo potencial de não reequilíbrio.
É importante ressaltar que, quando as ações se tornam uma parcela muito grande no portfólio, torna-se necessário vendê-las de modo a rebalancear a carteira. Quando isso ocorre, o investidor incorre no passivo por impostos associados e custos de transação. Quanto aos custos de reequilíbrio, eles podem ser afetados pelas condições sob as quais o negócio é feito, como, por exemplo, se o mercado necessita de liquidez ou se estávamos a fornecer liquidez a ele. Ademais, se o gerente estiver vendendo quando outros gestores estiverem fazendo o mesmo, o mercado necessitará de liquidez, sendo que o custo associado de transação poderá ser substancial. Já se o comércio fornecer liquidez, como, por exemplo, vender quando os demais estiverem comprando, os custos poderão ser mínimos.
No que se refere às abordagens de rebalanceamento de carteiras, o reequilíbrio de uma posição para seu peso-alvo preciso requer negociação mais ou menos constante. Com a análise constante e a respectiva negociação, há os custos de transação associados. Adicionalmente, ao invés de definir um alvo estrito de alocações, gestores definirão intervalos admissíveis que consideram ideais no que se refere às classes de ativos. A fim de proporcionar a disciplina de rebalanceamento da carteira, gerentes também podem adotar um calendário de reequilíbrio ou intervalo de base em equilíbrio.
Calendário de reequilíbrio
Como o próprio nome indica, o calendário de reequilíbrio é o rebalanceamento da carteira para a alocação estratégica em uma base regular e predeterminada, a qual, por exemplo, pode ser mensal ou trimestral. Geralmente, a frequência de reequilíbrio depende da volatilidade da carteira, mas às vezes o reequilíbrio é programado para coincidir com datas de revisão. O principal benefício do rebalanceamento de calendário é que ele fornece disciplina sem a necessidade de monitoramento constante. Já a desvantagem é que o portfólio poderia desviar-se consideravelmente entre as datas de reequilíbrio e retornar aos seus intervalos de alocação estratégica nessa data, ou seja, o reequilíbrio está relacionado com a passagem do tempo, e não com o valor da carteira.
Intervalo de reequilíbrio
Com essa abordagem, o reequilíbrio é desencadeado por alterações em termos de valor ao invés do calendário. Nesse contexto, o gerente define o que é chamado de bandas de tolerância (ou corredores), que são considerados ideais para cada classe de ativos. Por exemplo, uma banda de 50 ± 5% indica que a classe de ativos relacionados deve permanecer em uma faixa entre 45 a 55%. Sempre que a classe de ativos se situar fora daquele corredor, o que implica que outras classes também violaram seus corredores, a carteira precisará ser rebalanceada.
Ao não esperar as datas especificadas de reequilíbrio, a estratégia baseada no intervalo de reequilíbrio fornece o benefício de minimizar o grau em que a classe de ativos pode violar seus corredores de alocação. Além disso, o custo é aumentado pelo tempo e pela despesa de monitorar constantemente o portfólio, em comparação com apenas a verificação das avaliações nas datas do calendário especificado. Ao aplicar o método baseado no intervalo de reequilíbrio, as seguintes perguntas precisam ser respondidas:
- Quem é o responsável pelo reequilíbrio da carteira?
- Com que frequência o portfólio deve ser monitorado no que se refere às decisões de reequilíbrio?
- Qual é o tamanho das bandas de reequilíbrio?
- O rebalanceamento deve ser feito utilizando os pesos-alvo iniciais ou apenas parcialmente corrigidos?
Algumas considerações estratégicas precisam ser levadas em consideração, como a largura ideal da banda para uma classe de ativos, que dependerá do seguinte:
- Custos de transação: quanto menos o investidor realizar negociações, menor será esse custo. Se um ativo for particularmente ilíquido, por exemplo, a negociação poderá ser bastante cara, e a banda para a classe deve ser ampla. Em geral, quanto maior a liquidez do ativo, maior será a banda de tolerância;
- Tolerância ao risco: quanto mais (menos) o investidor for avesso ao risco, menor será a banda de tolerância (mais ampla) de reequilíbrio;
- Correlações: quanto mais correlacionados forem os ativos em um portfólio, com menos frequência o portfólio exigirá reequilíbrio. Se todos os ativos tenderem a se mover de modo conjunto, seus valores tenderão a permanecer dentro de intervalos aceitáveis. Por exemplo, se ambas as ações e títulos aumentarem 20% em valor, supondo apenas ações e títulos em carteira, seus pesos na carteira provavelmente se situarão dentro de limites aceitáveis. No entanto, se as ações aumentarem em 20% enquanto obrigações diminuírem em 20%, ambos provavelmente violarão suas bandas;
- Ímpeto: se os investidores acreditarem que as tendências atuais continuarão, um argumento poderá ser feito para o uso mais amplo de bandas de reequilíbrio. Por outro lado, se eles anteciparem, significará que reversão, corredores mais apertados e reequilíbrio devem ser aplicados;
- Investimentos ilíquidos: private equity e imóveis, por exemplo, são normalmente associados a maiores custos de negociação. Esses custos de liquidez incentivam a utilização de bandas mais largas de tolerância;
- Em vez de vender ativos subjacentes, uma estratégia de sobreposição de derivativos pode ser utilizada para reequilibrar sinteticamente um portfólio. Esses resultados exibem menores custos de transação, podendo reduzir os impostos e serem executados de forma mais rápida e fácil em comparação ao reequilíbrio com as ações e os títulos. A desvantagem é que derivativos exigem gerenciamento de risco adicional quando usados como uma ferramenta de reequilíbrio;
- Na tomada de decisão de reequilíbrio, os impostos devem ser considerados desde os ganhos de capital realizados, sendo que as perdas terão impacto sobre os impostos do investidor. As bandas de reequilíbrio também podem ser assimétricas devido à economia de impostos. Isso sugere que a escala da banda pode ser menor, isto é, abaixo de um certo peso-alvo em vez de acima (e.g., a banda de tolerância pode variar de 48% para 55% e, a seguir, para um peso-alvo de 50%);
- Em geral, quanto maior a volatilidade da classe de ativo individual, mais reduzida será a banda de tolerância para rebalanceamento.