Gestão de Carteiras – Estratégias Ativas, Semiativas e Passivas

 

Estratégia Passiva

Os gestores de portfólio que utilizam a estratégia passiva não empregam previsões para influenciar suas estratégias de investimento. Nesse contexto, a implementação mais comum de gestão passiva é a indexação, na qual o gestor investe a fim de imitar o desempenho de um índice, conhecido como índice de segurança. Embora a indexação seja passiva no sentido de que o gerente não tenta superar o índice, a  sua execução requer que ele compre títulos quando aumenta o peso de um ativo, por exemplo, quando uma nova ação é adicionada ao índice ou quando a empresa vende novas ações, ou ainda no caso da venda de ações quando o seu peso diminuir na composição do índice. Esse modelo de gestão ganhou popularidade a partir da década de 1970, sendo que frequentemente constitui o núcleo do investidor que deseja comprar e segurar.

Uma importante medida para analisar a gestão passiva é o tracking errorA tradução literal poderia ser como “erro de rastreamento”, mas não se trata propriamente de um erro, mas de um desvio. Esta medida indica o nível de aderência de uma carteira em relação ao seu benchmark, de forma que, quanto menor, maior será esta aderência. Um investidor provavelmente ficaria feliz ao receber 10% de retorno de uma gestão passiva enquanto seu benchmark apresentou retorno de apenas 7%. No entanto, esse desvio indicaria uma má gestão passiva, pois o gestor não estaria sendo capaz de rebalancear a carteira em relação ao índice. Ao mesmo tempo, é natural que uma gestão ativa apresente um tracking error alto em relação aos índices do mercado.

 

Estratégias Ativas

A gestão de capital de forma ativa é o outro extremo do gerenciamento de portfólio. Gerentes de ativos compram, vendem ou mantêm os valores mobiliários a fim de superar um benchmark. O retorno ativo é conhecido como o alfa, que se trata de uma medida de retorno excedente em relação à referência. Já o risco é medido pelo desvio-padrão. Quanto mais uma carteira se move rumo a uma gestão ativa, maior será o retorno esperado e maior será o risco. Espera-se que o gestor seja capaz de compensar o risco adicional com um retorno adicional, ou alfa, considerável, o que é medido pela razão entre o retorno e o risco. Esta razão, que indica a quantidade de retorno para cada unidade de risco adicional, é chamada de retorno ajustado ao risco, ou risk-adjusted returnO método mais utilizado para medir o retorno ajustado ao risco é o chamado Índice de Sharpe, que divide a diferença entre o retorno da carteira e o retorno livre de risco pelo desvio-padrão da carteira. Quanto maior for esta razão, mais eficiente estará sendo a gestão em termos de risco e retorno.

 

Estratégias Semiativas

O meio-termo entre as duas abordagens anteriores é a gestão de capital semiativa. Nesse contexto, o gestor de uma estratégia semiativa tenta obter um retorno maior que o valor de referência através da minimização do risco de se desviar do valor de referência. Quanto mais uma carteira se move rumo a uma gestão ativa, maior será o retorno esperado, mas esse retorno também implicará maior risco.

Dois exemplos de gestão semiativa são o enhanced indexing, ou indexição melhorada, e a estratégia core satellite. Enhanced indexing é a estratégia que usa uma carteira indexada mas com algumas modificações, como regras de exclusão que eliminam da carteira algumas empresas presentes no índice, movimentações planejadas para reduzir impostos e taxas e utilização de proporções levemente desviadas do índice. Já a core stallite é a estratégia que mantém parte dos recursos indexados, o que é considerado o coração ou centro do portfólio, e o restante em estratégias que envolvam aplicações não indexadas, geralmente de risco mais elevado.

Principais Benchmarks

  • Nacionais

O Índice Bovespa (Ibovespa) é o principal benchmark financeiro nacional para investimento em renda variável.  Trata-se de uma carteira teórica das ações com maior volume negociado nos últimos meses. O índice é reavaliado a cada 4 meses e as ações que o compõem, em conjunto, representam em torno de 80% do volume transacionado nos doze meses anteriores à formação da carteira.

Além do Ibovespa, existem diversos outros índices de ações na bolsa. Dentre eles, podemos destacar:

i) O Índice Brasil 50 (IBrX50) e o Índice Brasil 100 (IBrX100), aos quais reúnem as 50 e as 100 ações mais negociadas na bolsa.

ii) O Índice Small Cap (SMLL) e o Índice MidLarge Cap (MLCX). O primeiro possui ações das companhias de menor capitalização e o segundo apresenta o comportamento das ações de empresas de maior capitalização.

iii) O Índice do Setor Industrial (INDX), o Índice Financeiro (IFNC) e o Índice Imobiliário (IMOB). Esses índices apresentam o comportamento das ações do setor industrial, do setor financeiro e do setor imobiliário, respectivamente.

  • Estrangeiros

Podemos destacar os seguintes benchmarks do mercado acionário estrangeiro:

i) S&P Global 100: criado pela Standard & Poor’s, mede a performance de 100 empresas multinacionais que estão entre as maiores do mundo.

ii) MSCI World: É formado por mais de 1,5 mil ações de companhias de vários países, sendo, portanto, um importante benchmark para fundos de ações globais.

iii) Standard & Poor’s 500 Index (S&P 500): Reúne as ações das 500 maiores empresas de capital aberto dos EUA;

iv) Dow Jones: Reúne ações das 30 maiores e mais importantes empresas dos EUA;

v) SSE Composite Index: é uma carteira teórica que possui todas as ações listadas na bolsa de valores de Xangai;

vi) Nikkei 225: É uma carteira teórica que reúne as 225 principais ações da bolsa de valores de Tóquio; e

vii) FTSE 100: É uma carteira teórica que reúne as 100 principais ações da bolsa de valores de Londres.

Benchmarks customizados

Nos casos em que o gestor deseja rastrear o desempenho da carteira de um cliente com características específicas, que não são bem representadas pelos benchmarks padrões, pode ser interessante ele construir seu próprio benchmark. Com isso, o gestor pode oferecer um serviço mais personalizado aos seus clientes.

A customização pode ser feita, por exemplo, combinando diferentes benchmarks já existente. No momento de customizar o índice de referência é importante observar que as carteiras podem ser projetadas não somente para atender as metas de desempenho, mas também para atender alguma responsabilidade futura do investidor. Além disso, é importante tem em mente que o benchmark utilizado deve ser como uma posição estratégica neutra para um dado objetivo acordado com o cliente, considerando os riscos, retornos e possível necessidades de retiradas por parte do investidor.

O índice deve sempre ser ajustado quando os preços das ações mudam, quando novas ações são emitidas e quando as ações existentes deixam de ser negociadas. Com isso, o gestor deve sempre rebalancear o índice customizado para atualizar os pesos das ações que reflitam as mudanças do valor de mercado das ações e também deve reconstituí-lo para remover e substituir ações que não se enquadram mais na exposição de mercado do índice.

Qual estratégia escolher?

A estratégia selecionada dependerá muito do perfil do investidor e da política de investimentos selecionada (IPS), e incluirá fatores como a tolerância e capacidade de assumir riscos, objetivos de risco e retorno, tributação, etc. Cada investidor particular terá uma liquidez mínima necessária em determinado horizonte de tempo ou preocupações éticas de investimentos que fornecerão a direção que deve ser seguida pela estratégia de investimento.

Se o investidor acreditar que os mercados são eficientes, provavelmente ele escolherá uma estratégia passiva, pois ele não acredita que os retornos de gerenciamento ativo justificam os custos da pesquisa e das transações adicionais. Adicionalmente, dados históricos sugerem que esses investidores estão corretos em seu pensamento, pois os gerenciamentos ativos, em média, não superam a gestão passiva após a análise de despesas. Além disso, o nível de mau desempenho do gerenciador ativo é equivalente ao de suas despesas médias, o que sugere que o seu desempenho antes das despesas corresponde aproximadamente ao mesmo nível dos ganhos percebidos em uma gestão passiva.

Para que o investidor decida se necessita de uma gestão que utiliza uma gestão ativa ou passiva para determinar o estilo de investimento, primeiramente ele deve considerar o grau em que acredita que os especialistas em finanças podem gerar retornos maiores do que a média. Nesse contexto, os investidores que desejarem que gestores financeiros profissionais selecionem cuidadosamente suas participações estarão interessados na gestão ativa. Já os fundos administrados de modo ativo normalmente têm uma equipe de pesquisadores financeiros e gerentes de portfólio em tempo integral, a qual busca constantemente obter retornos maiores para os investidores. Ademais, como os investidores precisam pagar a experiência dessa equipe, os fundos ativamente gerenciados normalmente cobram despesas mais altas do que os fundos gerenciados passivamente.

Alguns investidores duvidam das habilidades dos gerentes ativos em sua busca por retornos desmedidos. Essa posição se baseia principalmente em pesquisas empíricas que mostram, a longo prazo, muitos fundos passivos geram retornos melhores para seus investidores do que fundos similares geridos ativamente.

As expectativas dos investidores em relação aos preços das ações também podem influenciar a escolha entre uma estratégia ativa ou passiva. Isto é, se o gestor espera que o preço de uma determinada ação irá subir, pois acredita que esta ação se encontra subvalorizada, o gestor tem o incentivo de se desviar do benchmark para comprar tais ações.


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Doutor em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestre em Economia Aplicada (quantitativa) pela UFPEL. É economista, especializado em Finanças pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atuou como Agente Autônomo de Investimentos (ANCORD), Analista e Controller. Pesquisador com publicações científicas internacionais sobre efeitos spillover e herd behavior no mercado de capitais. Autor de 7 livros.

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