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Japão: como o país mais endividado do mundo ainda tem crédito internacional?

Japão: como o país mais endividado do mundo ainda tem crédito internacional?

Japão: como o país mais endividado do mundo ainda tem crédito internacional?

A dívida pública japonesa atingiu US$ 10,8 trilhões ao final de 2023. O valor corresponde a mais de 250% do PIB do país de cerca de US$ 4,2 trilhões, o percentual mais alto entre as principais economias do mundo.

É argumentado como o motivo da enorme dívida japonesa o fato de que o país tem ampliado os gastos internos há décadas, para manter a sua economia em funcionamento. Vale destacar que os cidadãos e empresas do país desempenham papel fundamental no crescimento econômico, mas são extremamente reticentes na hora de consumir. Por isso, o Estado tem se visto frequentemente obrigado a gastar por eles.

Entre as causas deste problema está a demografia do Japão. A população do país é muito longeva (84 anos), o que aumenta os custos de assistência médica e previdência social do Estado. E também faz com que os aposentados tenham muita insegurança sobre o futuro e prefiram seguir economizando.

Entretanto, apesar dessa grande dívida pública, os investidores internacionais continuam confiando no país e, todos os anos, emprestam dinheiro ao Japão comprando a sua dívida. Vamos entender a partir de uma análise histórica: dívida pública do Japão começou a disparar em meados de 1990, quando sua bolha financeira e imobiliária explodiu, com efeitos bastante negativos para a economia do país.

Em 1991, a dívida representava apenas 39% do PIB. Entretanto, a partir dali, a taxa de crescimento da economia começou a cair drasticamente, reduzindo a receita do Estado, enquanto as circunstâncias obrigavam o governo a aumentar seus gastos. Assim, na década de 2000, a dívida pública já superava 100% do PIB e, em 2010, havia dobrado mais uma vez.

Ainda assim, o Japão, quarta maior economia global, manteve o caminho dos estímulos que, nas últimas décadas, foram ampliados por eventos como a crise de 2008, o terremoto seguido por tsunami em 2011 e, mais recentemente, a pandemia em 2020-2021.

 

Dessa forma, buscando amortecer o impacto desses eventos e manter o orçamento anual de educação, saúde e defesa, o Japão, como quase todos os países do mundo, vende títulos que financiam seus gastos. Assim, o país oferece sua dívida aos mercados internacionais, com o compromisso de devolvê-la integralmente aos investidores, com o pagamento de juros.

Por consequência, os investidores então emprestam seu dinheiro, principalmente os mais conservadores, já que esses títulos são considerados um local seguro para colocar o dinheiro, tendo em vista que além da rentabilidade oferecida os países desenvolvidos têm alta liquidez e os títulos podem ser facilmente utilizados como garantia para empréstimos.

Entretanto, possuindo níveis de dívida equivalentes a cerca de duas vezes e meia o tamanho da sua economia, fica fácil imaginar que o governo japonês teria dificuldades para pagar esse montante gigantesco.

Assim, especialistas argumentam que o motivo que levou o Japão a manter sua dívida sustentável ao longo do tempo, sem cair em moratória, é que o país conseguiu manter a rentabilidade dos títulos do governo em taxas muito baixas, pagando pouco aos investidores, com alto nível de confiança do mercado.

Outro motivo é o fato de que a maior parte da dívida do Japão não é definida em moeda estrangeira, mas sim em ienes, sua moeda local. Isso faz com que seu banco central fique menos exposto às turbulências dos mercados internacionais.

Isso é atestado por cerca de 90% da dívida estar com instituições financeiras japonesas e no Banco do Japão. Enquanto isso, cerca de 8% estão com os investidores estrangeiros. Por consequência, é possível "apenas monetizar o déficit do governo", ou seja, o governo japonês vende títulos, mas eles são comprados pelo seu próprio banco central.

Por fim, vale destacar que o Japão tem adotado a política de Quantitative Easing (através de estímulos monetários). Assim, o Banco do Japão compra grandes montantes da dívida pública para manter baixas taxas de juros a longo prazo, o que se acredita poder ajudar a estimular a economia.

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