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Entre Tarifas e Retrações: O que esperar dos mercados no dia de hoje?

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Resumo

No Brasil, o Ibovespa, principal índice da bolsa, registrou uma performance negativa, estendendo uma sequência de perdas. Essa desvalorização foi impulsionada pela retração inesperada do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) e, de forma mais proeminente, pelas ameaças de tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos. O dólar americano no Brasil (USD/BRL) exibiu uma leve apreciação, refletindo a volatilidade e o movimento de capital em busca de ativos mais seguros em meio à escalada das tensões comerciais. Nos Estados Unidos, o S&P 500 demonstrou notável resiliência, apesar das preocupações com as políticas tarifárias e fiscais, com analistas de Wall Street revisando cautelosamente suas projeções para o final do ano.

As principais notícias econômicas da semana giraram em torno da iminente imposição de tarifas de 50% por Donald Trump sobre produtos brasileiros. Essa medida provocou uma resposta estratégica do governo brasileiro, que regulamentou a Lei de Reciprocidade Comercial e estabeleceu um comitê interministerial dedicado a negociar e mitigar os impactos. O cenário global, conforme detalhado em relatórios do Banco Mundial e da UNCTAD, reforça a tendência de desaceleração do crescimento e o aumento das barreiras comerciais como temas dominantes, moldando as dinâmicas de investimento e comércio em escala internacional.

 


1. Cenário Macroeconômico Global e Doméstico

 

1.1. Perspectivas Econômicas Globais: Tensões Comerciais e Incertezas Políticas

A economia global em meados de 2025 se encontra em um período de desaceleração substancial, impulsionada por um aumento acentuado nas barreiras comerciais e uma elevada incerteza política. Essa conjuntura adversa possui implicações profundas, especialmente para as economias de mercados emergentes e em desenvolvimento (EMDEs), cuja capacidade de gerar empregos e reduzir a pobreza é limitada por esse contexto desafiador. O investimento estrangeiro direto (IED) nas EMDEs, um motor crucial para o crescimento, tem apresentado uma diminuição, exacerbando os desafios existentes.1

O relatório "Global Economic Prospects" do Banco Mundial, em suas edições de junho e janeiro de 2025, projeta um crescimento global de apenas 2,3% para 2025, uma revisão para baixo significativa em comparação com as previsões anteriores. A recuperação esperada para os anos de 2026-27 é descrita como tênue, sublinhando a fragilidade da trajetória econômica. Os riscos de queda para essas projeções incluem a escalada de restrições comerciais, um crescimento mais fraco do que o esperado nas principais economias, o agravamento de conflitos geopolíticos e a ocorrência de eventos climáticos extremos.1

Complementando essa análise, o "Global Trade Update" de julho de 2025 da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) corrobora a visão de um cenário desafiador para o comércio global. O comércio global expandiu-se em aproximadamente US$ 300 bilhões no primeiro semestre de 2025, com um crescimento estimado de 1,5% no primeiro trimestre e projeções de 2% para o segundo trimestre. No entanto, é fundamental notar que o aumento dos preços contribuiu significativamente para o valor total do comércio, enquanto os volumes de comércio físico cresceram apenas 1%. Isso revela uma dinâmica em que a inflação de bens comercializados mascara uma estagnação subjacente no volume de trocas.2

As economias desenvolvidas, notadamente os Estados Unidos (com um aumento de 14% nas importações) e a União Europeia (com um salto de 6% nas exportações), superaram os países em desenvolvimento no primeiro trimestre de 2025, revertendo tendências recentes que haviam favorecido o Sul Global. Essa mudança pode indicar uma reconfiguração das cadeias de valor globais ou uma demanda interna mais robusta nessas regiões, em contraste com a desaceleração geral. Os desequilíbrios comerciais também se ampliaram, com o déficit dos EUA crescendo e os superávits da China e da UE aumentando. A UNCTAD prevê ventos contrários crescentes no segundo semestre de 2025 devido à persistente incerteza política, tensões geopolíticas e sinais de desaceleração do crescimento global.2

Essa conjuntura revela um paradoxo: ao mesmo tempo em que os relatórios do Banco Mundial e da UNCTAD apontam para uma desaceleração do crescimento global e um aumento das barreiras comerciais, há uma expansão do comércio em valores monetários e um desempenho superior das economias desenvolvidas. Essa dinâmica sugere que, embora o volume de comércio possa estar estagnado ou crescendo lentamente, o aumento dos preços está camuflando uma fragilidade maior. A fragmentação do comércio, impulsionada por políticas protecionistas, parece estar levando a uma realocação de fluxos comerciais, beneficiando alguns em detrimento de outros, em vez de um crescimento global equitativo. A persistência das tensões comerciais e a incerteza política não são apenas riscos potenciais, mas já são fatores ativos que estão moldando a dinâmica do comércio global, conduzindo a uma redefinição das relações econômicas internacionais e, potencialmente, a um crescimento mais desigual entre as regiões.

A UNCTAD também lançou luz sobre a crescente concentração nos mercados digitais, onde as cinco maiores multinacionais digitais agora respondem por 48% das vendas globais, um aumento substancial em relação aos 21% registrados em 2017. Sete das dez empresas mais valiosas do mundo são atualmente gigantes digitais, abrangendo desde serviços em nuvem e comércio eletrônico até inteligência artificial (IA) e publicidade online. A rápida expansão da IA generativa, dominada por empresas como Microsoft e Google, intensifica essa concentração. Em resposta a essa dinâmica, governos têm aumentado as intervenções de concorrência, com o número de ações globais subindo de 14 em 2020 para 153. No entanto, a aplicação da lei permanece desigual, especialmente em regiões como África e América Latina.2

1.2. Política Monetária Internacional: Divergências e Desafios

A política monetária internacional em meados de julho de 2025 apresentou um quadro de divergências e desafios significativos, com as principais economias globais adotando abordagens distintas em resposta às suas condições macroeconômicas.

Nos Estados Unidos, a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (CPI), é um ponto de foco crucial em 15 de julho de 2025. As projeções da Bloomberg indicavam uma aceleração da inflação, tanto em base anual (2,6%, acima dos 2,4% de maio) quanto mensal (0,3%, acima dos 0,1% anteriores). O núcleo da inflação, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, também era esperado para subir. Apesar da pressão da Casa Branca, o Federal Reserve (Fed) era amplamente esperado para manter as taxas de juros inalteradas em sua reunião subsequente. O tom da autoridade monetária, no entanto, permaneceu sob escrutínio em um ambiente externo cada vez mais volátil.3 As tensões entre o Presidente Donald Trump e o Federal Reserve, especialmente suas críticas ao Presidente Jerome Powell, continuavam a ser um fator de risco latente. George Saravelos, chefe global de estratégia de câmbio do Deutsche Bank, alertou que uma possível demissão de Powell por Trump poderia desencadear uma venda massiva de dólares americanos e títulos do Tesouro, um risco que ele considerava subestimado pelo mercado.4

Em contraste, o Banco Central Europeu (BCE) havia adotado uma postura mais dovish. O BCE cortou suas três principais taxas de juros em 25 pontos-base em 5 de junho de 2025, seguindo um corte anterior em 6 de março de 2025. A taxa da facilidade permanente de depósito, que serve como o principal instrumento para orientar a política monetária, foi reduzida. As projeções macroeconômicas do Eurosistema de junho de 2025 indicavam que a inflação global na Zona Euro estaria em torno de 2,0% em 2025, com revisões para baixo atribuídas principalmente a preços de energia mais baixos e a um euro mais forte. O crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) na Zona Euro era projetado em 0,9% em 2025. Essa série de cortes sinalizava que a política monetária do BCE estava se tornando significativamente menos restritiva.5

A divergência nas políticas monetárias entre as principais economias desenvolvidas cria um diferencial de juros que pode influenciar os fluxos de capital globalmente. A manutenção de taxas mais altas nos EUA, em conjunto com a incerteza política, pode atrair capital para ativos denominados em dólar, impulsionando operações de carry-trade e fortalecendo a moeda americana. Isso, por sua vez, pode exercer pressão de desvalorização sobre as moedas de mercados emergentes, como o Real brasileiro. Por outro lado, a flexibilização da política monetária do BCE pode tornar a Zona Euro mais atraente para investimentos, embora a incerteza comercial global ainda pese sobre as decisões de alocação de capital. A assincronia nessas políticas monetárias globais adiciona uma camada de complexidade para os investidores, que precisam navegar entre os diferentes regimes de taxas de juros e seus respectivos impactos na valorização das moedas e na atratividade dos ativos financeiros. A tensão entre Trump e o Fed, em particular, adiciona um risco político significativo à equação, com o potencial de gerar volatilidade inesperada no mercado de câmbio e de títulos do Tesouro.

1.3. Cenário Econômico Brasileiro: Resiliência sob Pressão

O cenário econômico brasileiro no início da semana de 14 de julho de 2025 foi marcado por uma complexa interação de indicadores, revelando uma resiliência sob pressão. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), frequentemente considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), retraiu 0,7% em maio de 2025 em comparação com o mês anterior (dado dessazonalizado).4 Essa foi a primeira contração do ano, e o resultado se mostrou pior do que o esperado pelo mercado. A agropecuária exerceu um peso significativo nessa queda, registrando uma retração de 4,2% no IBC-Br setorial. A indústria também teve desempenho negativo, com uma queda de 0,5%, enquanto o setor de serviços permaneceu estagnado. Excluindo a agropecuária, o IBC-Br apresentou um recuo de 0,3%.4 Essa retração em maio interrompeu uma sequência de quatro meses consecutivos de expansão, indicando uma desaceleração da atividade econômica brasileira em um contexto de política monetária restritiva e sob a iminente perspectiva de tarifas dos EUA.4

O Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central em 14 de julho de 2025 (com dados coletados até 11 de julho), forneceu projeções atualizadas que refletem essa dinâmica. A mediana das projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2025 recuou levemente de 5,18% para 5,17%, marcando a sétima semana consecutiva de queda. Para 2026 e 2027, as expectativas de inflação se estabilizaram em 4,50% e 4,00%, respectivamente. Apesar dessa melhora marginal, o consenso de mercado para a inflação permanece consideravelmente acima da meta de 3,00% do Banco Central para o horizonte relevante, indicando que o desafio inflacionário persiste.10

Em relação ao PIB, a projeção para o crescimento em 2025 manteve-se em 2,23%. Para 2026, a mediana subiu de 1,86% para 1,89%, revertendo a queda da semana anterior, enquanto para 2027, a projeção é de 2,00%. O Boletim Focus ressaltou que medidas governamentais anunciadas, como a liberação de saldos do FGTS para trabalhadores demitidos que optaram pelo "saque-aniversário", a injeção adicional de recursos no programa "Minha Casa Minha Vida" e a criação do "Crédito do Trabalhador", são esperadas para gerar estímulos adicionais à demanda, contribuindo para uma desaceleração econômica ainda mais gradual.10 É importante notar que a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda, em seu Boletim Macrofiscal de 11 de julho, apresentou projeções ligeiramente mais otimistas, elevando o PIB de 2025 para 2,5% (de 2,4%) e o IPCA para 4,9% (de 5%).13

A taxa Selic, a taxa básica de juros, permaneceu como um pilar de estabilidade no Boletim Focus, com o consenso de mercado mantendo-a em 15,00% para o final de 2025. Esse é o maior patamar desde 2006. Para 2026 e 2027, as projeções indicam uma redução gradual para 12,50% e 10,50%, respectivamente. A incerteza global e as expectativas de inflação desancoradas exigem cautela na condução da política monetária, mas as quedas da inflação corrente e do câmbio aliviam a necessidade de aumento nos juros.10

Por fim, a mediana das projeções para a taxa de câmbio (USD/BRL) recuou para os próximos três anos: R$/US$ 5,65 para o final de 2025 (ante 5,70), R$/US$ 5,70 para 2026 (ante 5,75) e R$/US$ 5,71 para 2027 (ante 5,75).10

A complexa dinâmica entre a desaceleração econômica, a inflação persistente e o estímulo governamental no Brasil cria um cenário de difícil navegação. A retração do IBC-Br sinaliza que a política monetária restritiva está surtindo efeito na atividade econômica. No entanto, o fato de as projeções de inflação ainda estarem acima da meta, e a taxa Selic em um patamar elevado, impede cortes mais agressivos nos juros. As medidas de estímulo do governo, embora visem impulsionar o crescimento e a demanda, podem, de forma contraintuitiva, dificultar o controle inflacionário pelo Banco Central, gerando um dilema para a política econômica. A resiliência do mercado de trabalho, que tem sido um suporte para o consumo das famílias, atua como um fator mitigador, potencialmente evitando uma desaceleração econômica mais acentuada. O Brasil, portanto, se encontra em um delicado equilíbrio entre a necessidade de estimular a economia e a urgência de controlar a inflação. A persistência de juros altos, mesmo com a desaceleração, pode continuar a pesar sobre o investimento e o consumo a médio prazo, a menos que a inflação convirja de forma mais decisiva para a meta, abrindo espaço para uma flexibilização monetária. A divergência entre as projeções do mercado (Boletim Focus) e do governo (SPE) para o PIB e IPCA reflete essa incerteza e a ausência de um consenso claro sobre a trajetória econômica futura.

Tabela 1: Projeções Macroeconômicas Chave - Brasil (Boletim Focus 14/07/2025)

Indicador

Projeção 2025

Projeção 2026

Projeção 2027

IPCA

5,17%

4,50%

4,00%

PIB

2,23%

1,89%

2,00%

Taxa Selic (final do ano)

15,00%

12,50%

10,50%

Taxa de Câmbio USD/BRL (final do ano)

5,65

5,70

5,71

Fonte: Banco Central do Brasil - Boletim Focus (14/07/2025) 10

 


2. Desempenho dos Principais Ativos Financeiros (Semana de 14/07/2025)

 

Tabela 2: Desempenho dos Ativos Financeiros (14-15/07/2025)


Ativo Financeiro

Fechamento 15/07/2025

Variação Diária 15/07/2025

Ibovespa

135.298,99 pontos 3

-0,65% 3

USD/BRL

5,5893 15

+0,65% 15

2.1. Ibovespa: Impacto do Cenário Doméstico e Externo

O Índice Ibovespa, termômetro do mercado acionário brasileiro, operou em baixa de 0,65% em 14 de julho de 2025, situando-se na casa dos 135.298 mil pontos.4 Essa retração foi diretamente influenciada pela divulgação do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de maio, que mostrou uma contração, e pelas novas ameaças tarifárias proferidas por Donald Trump.4
A análise do desempenho de componentes do índice revela uma dinâmica setorial e corporativa mista. Em 14 de julho, várias ações de peso registraram quedas notáveis, incluindo Banco do Brasil ON (-2,18%), BRF ON (-4,55%), Braskem PN (-2,36%), Eletrobras ON (-1,50%), Petrobras ON (-1,07%), Petrobras PN (-1,32%), Lojas Renner ON (-2,83%), Vale ON (-1,14%) e Santander Brasil Unit (-2,05%).18 A BRF, em particular, teve o pior desempenho entre as empresas do Ibovespa, com uma queda de quase 5% em 14 de julho, refletindo a venda de sua participação pela Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.8 A Petrobras sofreu com o desempenho dos preços do petróleo, acumulando uma queda de 1,63%, enquanto a Vale também registrou declínio de mais de 1%, apesar de um aumento nos preços do minério de ferro.8 Em contrapartida, algumas ações demonstraram resiliência, como MRV ON (+2,96%) e Engie Brasil ON (+2,21%).18 Um destaque positivo foi a Petz, que subiu 6,3% em meio a expectativas de fusão com a Cobasi.8

No que tange ao valuation, o Ibovespa estava sendo negociado a 8,3x o Preço/Lucro (P/L) projetado para os próximos 12 meses, um valor significativamente abaixo da média histórica de 10,6x.19 Essa métrica sugere que o mercado brasileiro estava relativamente descontado, potencialmente atraindo investidores em busca de valor. Em termos de fluxo de capital, o Brasil continuou a se destacar em 2025 pela boa performance de seus ativos, acompanhando o movimento positivo de bolsas de outros países latino-americanos como Colômbia, Chile e México. Esse comportamento contrastou com o desempenho das bolsas americanas, sugerindo que o fluxo de rotação global ainda resistia à volatilidade que marcou as últimas semanas.19 Setorialmente, os setores imobiliário e financeiro continuaram a se sobressair no ano, enquanto o setor industrial ficou atrás do Ibovespa.19

A queda do Ibovespa, apesar de um valuation atrativo e um fluxo de capital global que demonstrava alguma preferência por mercados emergentes (um movimento de rotação), demonstra a sensibilidade do mercado brasileiro a choques exógenos de política comercial. A retração do IBC-Br, especialmente no setor agropecuário, expõe vulnerabilidades domésticas, mas a reação do mercado é amplificada pelas incertezas tarifárias. A performance mista de empresas e setores – com o financeiro e imobiliário em alta, enquanto indústria e agropecuária registram quedas – indica que o impacto dos fatores macroeconômicos não é uniforme. Além disso, narrativas específicas de fusões (como o caso da Petz) ou desinvestimentos (como o da BRF) podem sobrepor-se às tendências gerais do índice, evidenciando a complexidade do mercado. A resiliência do Ibovespa a médio prazo dependerá não apenas da recuperação da atividade econômica doméstica, mas também da capacidade do Brasil de navegar e mitigar os riscos de uma guerra comercial. A atratividade de valuation pode atrair investidores de longo prazo, mas a volatilidade persistirá enquanto as tensões comerciais e as incertezas políticas globais não se dissiparem. Uma análise setorial aprofundada é, portanto, crucial para identificar oportunidades e riscos em um mercado fragmentado por esses choques.

2.2. Dólar (USD/BRL): Pressões Tarifárias e Estabilidade da Selic

A taxa de câmbio USD/BRL apresentou uma dinâmica de leve apreciação na semana em análise. Em 15 de julho de 2025, o dólar americano futuro estava cotado a 5,5893 reais, registrando uma leve alta de 0,02% em relação à sessão anterior.15 No dia anterior, 14 de julho, a taxa EURBRL foi de 6,5203 (com alta de 0,36%), e a GBPBRL de 7,5045 (com alta de 0,10%).15 A moeda brasileira, o Real, havia enfraquecido em julho, atingindo o menor nível em um mês. Essa desvalorização foi atribuída principalmente às ofensivas comerciais do Presidente Trump, que incluíram uma tarifa de 35% sobre produtos canadenses e a ameaça de tarifas generalizadas de 15-20%, além da já anunciada tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras.15 Essas ações geraram temores de uma disputa comercial prolongada, desviando capital para ativos em dólar e obscurecendo as perspectivas de entrada de divisas do segundo maior parceiro comercial do Brasil.15

Diversos fatores macroeconômicos influenciaram o comportamento do câmbio. A inflação no Brasil permaneceu alta, com o IPCA registrando 5,35% ano a ano em junho, um valor bem acima da meta de 3%.15 A taxa Selic, por sua vez, manteve-se em um nível restritivo de 15,00% em junho, com o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizando uma pausa "muito prolongada" em vez de cortes iminentes, o que diminui as perspectivas de alívio monetário.15 Apesar dos desafios, os fundamentos da política brasileira ofereceram algum suporte ao Real. Os rendimentos reais robustos, que estão entre os mais altos do mundo, sustentaram os fluxos de

carry-trade, atraindo capital estrangeiro em busca de retornos mais elevados. Além disso, a previsão de PIB de 2,5% para 2025, atualizada pelo Tesouro, sugere que a economia brasileira mantém a resiliência para suportar esses ventos contrários externos.15

Para o futuro, o mercado projeta que o USD/BRL negocie a 5,54 até o final do trimestre atual e 5,92 em 12 meses.15 A tensão entre o

carry-trade e o risco geopolítico no câmbio brasileiro é evidente. O Real brasileiro está sob pressão de desvalorização devido às tarifas de Trump, mas, ao mesmo tempo, a alta taxa Selic (15%) cria um diferencial de juros atraente para operações de carry-trade, que tendem a fortalecer a moeda. Essa dualidade reflete a batalha entre os fundamentos econômicos, onde juros altos atraem capital, e os riscos geopolíticos, como a guerra comercial. A leve apreciação ou estabilidade do USD/BRL na semana de 14 de julho, apesar das notícias sobre tarifas, pode ser atribuída à força do carry-trade e à resiliência da economia brasileira, que atenuam o impacto negativo das tensões comerciais. No entanto, a perspectiva de um "prolongado pause" na Selic, em vez de cortes, indica que o Banco Central está ciente dos riscos inflacionários e cambiais e não está disposto a sacrificar a estabilidade de preços por um crescimento mais rápido. A trajetória do Real no curto e médio prazo dependerá criticamente da evolução das negociações comerciais com os EUA e da capacidade do Banco Central de gerenciar as expectativas de inflação. Um agravamento da guerra comercial poderia sobrepor-se ao atrativo do carry-trade, levando a uma desvalorização mais acentuada, enquanto uma resolução ou mitigação das tarifas poderia permitir que os fundamentos de juros altos e PIB resiliente impulsionassem uma apreciação.

2.3. S&P 500: Resiliência em Meio à Volatilidade Geopolítica e Fiscal

O S&P 500, um dos principais índices de ações dos Estados Unidos, demonstrou um comportamento de resiliência em meio a um cenário de volatilidade geopolítica e fiscal. Em 14 de julho de 2025, o índice operava em leve baixa de 0,1% 4 e fechou em 6.268,56 pontos, com uma variação de -0,14%.17 Os futuros do S&P 500 indicavam uma queda de 0,33% na manhã do mesmo dia.20 No entanto, em 15 de julho de 2025, os futuros do S&P 500 avançaram 0,33%, sinalizando uma abertura positiva para o mercado.3

O S&P 500 foi "incomumente volátil" no primeiro semestre de 2025, com quedas em março e um "crash" no início de abril, atribuídos às políticas comerciais agressivas de Donald Trump, como as "Liberation Day tariffs". Apesar dessa turbulência, o índice protagonizou uma recuperação histórica, subindo mais de 20% no período de dois meses encerrado em 9 de junho e atingindo um recorde de 6.280 pontos no início de julho.17 No acumulado do ano até 14 de julho de 2025, o S&P 500 registrou um retorno total de 7,33% e um retorno de preço de 6,58%.21

As políticas de Trump continuam a ser um fator de influência primordial. As tarifas impostas por sua administração elevaram a taxa média de imposto sobre as importações dos EUA para 18%, o nível mais alto desde 1934, e essa cifra poderia aumentar ainda mais. Ameaças recentes de tarifas de 35% sobre importações canadenses e 30% sobre produtos europeus e mexicanos são consideradas particularmente prejudiciais à economia. Contudo, as perdas no mercado foram limitadas, pois os investidores tendem a interpretar essas ameaças como táticas de negociação, em vez de medidas definitivas.4

Outro ponto de discórdia é a lei "Big, Beautiful Bill" (BBB), assinada em 4 de julho. Enquanto a Casa Branca afirma que ela reduzirá o déficit federal em até US$ 11 trilhões na próxima década, economistas independentes, como a Tax Foundation e o Congressional Budget Office, discordam veementemente, estimando um aumento de mais de US$ 3 trilhões no déficit. A preocupação dos investidores é que um maior gasto deficitário leve a rendimentos mais altos dos títulos do Tesouro, o que, por sua vez, desviaria dinheiro do mercado de ações.17

As projeções de Wall Street para o S&P 500 refletem essa complexidade. Vários bancos de investimento, incluindo Bank of America, Goldman Sachs, Barclay, Citigroup e Deutsche Bank, elevaram suas metas de fim de ano para o S&P 500 em junho e julho. A Goldman Sachs, por exemplo, citou uma "perspectiva resiliente para o crescimento dos lucros em 2026, a retomada dos cortes nas taxas do Fed e o posicionamento neutro dos investidores" como argumentos para uma maior valorização do mercado.17 A meta mediana entre 17 firmas de Wall Street é de 6.300 pontos para o final de 2025, o que implica apenas 1% de alta em relação aos 6.260 pontos atuais. No entanto, essa meta mediana de 6.300 é significativamente maior do que a meta mediana de 5.900 pontos registrada em maio.17

A composição do índice também está em constante evolução. Datadog foi a adição mais recente ao S&P 500, e empresas como Robinhood Markets (com um valor de mercado de US$ 88 bilhões), AppLovin (com US$ 115 bilhões de valor de mercado) e Cheniere Energy (LNG) são consideradas os próximos candidatos à inclusão.23

A aparente desconexão entre os riscos políticos (tarifas, debate fiscal, tensões entre Trump e o Fed) e o otimismo do mercado acionário americano pode ser explicada pela percepção dos investidores de que as ameaças de Trump são, em grande parte, táticas de negociação. Há também uma aposta implícita na capacidade da economia americana de absorver esses choques e na expectativa de lucros corporativos resilientes em 2026, além de uma eventual retomada dos cortes de juros pelo Fed. Essa perspectiva sustenta a narrativa de resiliência. No entanto, a persistência de tarifas elevadas e o aumento do déficit fiscal representam riscos de cauda que, de fato, podem "descarrilar o bull market", como alertado por alguns analistas. O mercado americano está em um ponto de inflexão, onde a narrativa de resiliência e crescimento de lucros se choca com riscos macroeconômicos e políticos significativos. A cautela dos analistas, apesar das revisões para cima, sugere que o potencial de valorização pode ser limitado e que qualquer escalada nas tensões comerciais ou fiscais pode rapidamente reverter o sentimento positivo. A contínua inclusão de empresas de alto crescimento e inovadoras no índice, como Datadog e os candidatos Robinhood e AppLovin, indica uma persistente busca por empresas com forte potencial de crescimento, mesmo em um cenário macroeconômico desafiador.

Tabela 3: Metas do S&P 500 por Firmas de Wall Street (2025)

Wall Street Firm

S&P 500 Target (2025)

Implied Upside (Downside)

Wells Fargo

7.007

12%

BMO Capital

6.700

7%

Fundstrat

6.600

5%

Goldman Sachs

6.600

5%

Deutsche Bank

6.550

5%

Morgan Stanley

6.500

4%

Yardeni

6.500

4%

UBS

6.400

2%

Bank of America

6.300

1%

Citigroup

6.300

1%

Barclays

6.050

(3%)

JPMorgan

6.000

(4%)

Oppenheimer

5.950

(5%)

RBC Capital

5.730

(8%)

HSBC

5.600

(11%)

Evercore

5.600

(11%)

Stifel

5.500

(12%)

Mediana

6.300

1%

Fonte: Yahoo Finance, com base em 17 firmas de Wall Street 17

 


3. Notícias Financeiras e Econômicas Relevantes (14-15/07/2025)

 

3.1. Tarifas de Donald Trump sobre Produtos Brasileiros: A Escalada Protecionista

O início da semana de 14 de julho de 2025 foi dominada pelo anúncio do Presidente Donald Trump sobre a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, com vigência a partir de 1º de agosto de 2025.4 Essa medida, comunicada no sábado anterior a 14 de julho, é adicional a outras já existentes e foi determinada unilateralmente, com o objetivo declarado de proteger indústrias locais e garantir empregos nos Estados Unidos.26 A tarifa será aplicada de forma ampla e automática, independentemente do setor ou tipo de mercadoria, o que, na prática, encarece os produtos brasileiros no mercado norte-americano, podendo reduzir drasticamente a competitividade dos exportadores brasileiros.26

O contexto político por trás dessa imposição é multifacetado. A ação reflete a percepção de Washington de um afastamento do Brasil de sua esfera de influência, com uma crescente aproximação de países como China, Rússia e outros membros do BRICS.28 Trump também justificou as tarifas como uma resposta ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à "censura" de redes sociais americanas por ordens judiciais do Supremo Tribunal Federal (STF).28 Em termos de impacto econômico, a medida tem um potencial bilionário, considerando que em 2024 o Brasil exportou US$ 40,4 bilhões para os EUA, representando 12% do total exportado.26

Os mecanismos de impacto na economia brasileira são diversos e preocupantes. Economistas preveem uma desaceleração econômica significativa. Roberto Dumas, professor do Insper, estima que a tarifa pode retirar no mínimo 0,3 ponto percentual do crescimento do PIB brasileiro em 12 meses a partir de sua vigência, com potencial para ser ainda maior.26 A redução das exportações para os EUA, resultando em menor entrada de dólares no país, pode levar à desvalorização do Real.26 Um câmbio mais caro, por sua vez, tende a pressionar a inflação, pois as importações ficam mais caras e esse custo é repassado ao consumidor. Produtos de alto valor agregado, como eletrônicos, podem sofrer aumentos de preços, contribuindo para essa pressão inflacionária.26 A desvalorização cambial e o aumento da inflação podem, ainda, levar à manutenção da taxa de juros em um nível elevado por mais tempo, impactando a perspectiva de queda da Selic.26 O impacto recai fortemente sobre empresas exportadoras, que precisarão recalcular custos, preços e margens. Os EUA são grandes compradores de produtos industrializados brasileiros, que geram mais empregos, tornando o impacto social mais relevante. Produtos como café, suco de laranja, aço e petróleo terão seus preços inflacionados nos EUA, forçando-os a buscar outros fornecedores.26

Além da tarifa específica sobre o Brasil, Donald Trump, em discurso proferido em 6 de julho de 2025, ameaçou impor uma tarifa adicional de 10% sobre produtos importados dos países parceiros do BRICS.27 Essa medida mais ampla visa proteger indústrias locais e pode intensificar tensões diplomáticas, com projeções de aumento nos custos de insumos e commodities globais, como petróleo e alimentos.27

A estratégia multifacetada de pressão comercial de Trump e suas ramificações geopolíticas são evidentes. A política tarifária de Trump transcende o objetivo puramente econômico, funcionando como uma ferramenta de pressão geopolítica para redefinir alianças e influenciar a política interna de países como o Brasil. A escolha de produtos industrializados brasileiros para a tarifa de 50% não é aleatória; ela visa maximizar o impacto no emprego e na cadeia de valor, forçando uma resposta mais drástica. A ameaça aos BRICS, um bloco em expansão, sinaliza uma estratégia de contenção econômica de potências emergentes que desafiam a hegemonia americana. A contradição nos dados de balança comercial, onde Trump alega um déficit com o Brasil enquanto os dados brasileiros mostram um superávit com os EUA, sugere que a justificativa econômica pode ser secundária à motivação política.26 As tarifas de Trump não são apenas barreiras comerciais, mas manifestações de uma reconfiguração da ordem econômica global, onde o comércio se torna uma arma em disputas geopolíticas. Para o Brasil, isso significa que a resolução do conflito tarifário será complexa, envolvendo não apenas negociações econômicas, mas também diplomacia política de alto nível. A diversificação de mercados, especialmente para os países do BRICS e outros blocos, torna-se uma imperativa estratégica para reduzir a dependência de mercados voláteis e mitigar os riscos de futuras pressões unilaterais.

3.2. Resposta Brasileira: A Lei de Reciprocidade Comercial e o Comitê Interministerial

Em resposta às medidas protecionistas dos Estados Unidos, o governo brasileiro agiu de forma decisiva, institucionalizando mecanismos de defesa comercial. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva regulamentou a Lei da Reciprocidade Econômica (Lei nº 15.122/2025) em 14 de julho de 2025, com o decreto de regulamentação publicado no Diário Oficial da União em 15 de julho.31 A lei, aprovada por unanimidade no Congresso Nacional em abril de 2025, autoriza o Brasil a adotar contramedidas comerciais proporcionais contra países ou blocos econômicos que adotem práticas discriminatórias contra as exportações brasileiras.32

Os mecanismos da Lei nº 15.122/2025 conferem ao Brasil a capacidade de suspender concessões comerciais, benefícios fiscais, direitos de propriedade intelectual e facilidades de investimento que favoreçam empresas estrangeiras. Além disso, permite a imposição de tributos adicionais ou restrições sobre importações. É importante notar que a suspensão de direitos de propriedade intelectual será aplicada em caráter excepcional e subsidiário, quando outras contramedidas forem consideradas inadequadas. A Câmara de Comércio Exterior (Camex) terá a capacidade de tomar decisões rápidas para defender os interesses nacionais.32 A lei surge como uma resposta direta às tarifas unilaterais dos EUA. O Presidente Lula reagiu prontamente, afirmando que o Brasil não aceitará ordens de ninguém e reagirá com base na Lei da Reciprocidade Econômica, defendendo a economia nacional.32

Em paralelo à regulamentação da lei, foi criado um comitê de trabalho interministerial pelo Presidente Lula, coordenado pelo Vice-Presidente e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin. O grupo inclui representantes do MDIC, Casa Civil, Ministério das Relações Exteriores e Ministério da Fazenda.24 As duas primeiras reuniões do comitê ocorreram em 15 de julho de 2025 na sede do MDIC em Brasília. A primeira, às 10h, reuniu setores industriais com maior relação de comércio exterior com os EUA, como aviação, aço, alumínio, celulose, máquinas, calçados e autopeças. Na parte da tarde, às 14h, foram recebidas empresas do agronegócio, incluindo setores que exportam suco de laranja, carnes, frutas, mel, couro e pescado.24

A estratégia do comitê é multifacetada. Sua primeira missão é ouvir os setores empresariais para detectar as implicações das tarifas de Trump. Alckmin enfatizou a continuidade do trabalho e a intenção de agendar reuniões com entidades e empresas americanas, pois há uma integração de cadeia que afetará as empresas dos EUA. O objetivo é mobilizar as empresas norte-americanas afetadas para que pressionem seu próprio governo. Alckmin negou ter solicitado redução ou prorrogação da tarifa, focando em ouvir os setores e mobilizar o setor privado em conjunto com as ações do governo. A tarifa foi classificada como "totalmente inadequada".24 É relevante mencionar que o Brasil já havia encaminhado uma proposta confidencial sobre taxas comerciais às autoridades dos EUA em 16 de maio, mas não obteve resposta.24

A regulamentação da Lei de Reciprocidade representa uma mudança de paradigma na política comercial brasileira, passando de uma postura reativa e, por vezes, passiva, para uma abordagem proativa e legalmente respaldada para defender seus interesses. A unanimidade na aprovação da lei sublinha um raro consenso político nacional em face de uma ameaça externa. A estratégia de envolver empresas americanas afetadas pelas tarifas brasileiras, devido à interdependência das cadeias de suprimentos, é uma tática inteligente para criar pressão interna nos EUA, transformando um conflito bilateral em um problema compartilhado por múltiplos stakeholders. Isso demonstra que o Brasil está utilizando não apenas ferramentas legais e diplomáticas, mas também o poder de lobby empresarial para mitigar os impactos das tarifas. A resposta brasileira é um sinal claro de que o país está preparado para defender sua soberania econômica e comercial de forma mais assertiva. Isso pode levar a um cenário de maior atrito no curto prazo, mas também pode forçar uma negociação mais equitativa com os EUA, dado o potencial de danos recíprocos. A capacidade do Brasil de mobilizar seu setor privado e buscar alianças internacionais, mesmo que informais, será crucial para o sucesso dessa estratégia e para a proteção de seus setores exportadores.

3.3. Outros Desenvolvimentos Chave no Mercado Financeiro e Econômico

Além das tensões comerciais e das respostas políticas, a semana de 14 de julho de 2025 testemunhou outros desenvolvimentos significativos nos mercados financeiros e na economia global.

No mercado de criptomoedas, o Bitcoin atingiu um novo recorde histórico em 14 de julho de 2025, superando a marca de US$ 120 mil. Esse pico foi impulsionado por fluxos institucionais crescentes e pela expectativa em torno da "Semana Cripto" em Washington, um evento que prometia pautar discussões legislativas relevantes para o setor.4 No entanto, em 15 de julho, o Bitcoin recuou 2,74%, para US$ 116.911,65, em um movimento de realização de lucros por parte dos

traders após a disparada recorde.3

A temporada de balanços corporativos também começou a ganhar destaque. Empresas como Camil (CAML3) e Romi (ROMI3) estavam programadas para reportar seus resultados referentes ao primeiro e segundo trimestres de 2025, respectivamente, em 15 de julho, após o fechamento do mercado.4 Esses resultados seriam cruciais para fornecer uma visão mais clara da saúde financeira de setores específicos e do desempenho corporativo em meio ao cenário macroeconômico desafiador.

No âmbito da regulação e concorrência, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) no Brasil demonstrou intensa atividade na semana e nos meses anteriores. O órgão abriu consulta pública sobre uma resolução para acordos e multas em 10 de julho e discutiu a concorrência em ecossistemas digitais na mesma data.38 Em 7 de julho, o CADE recomendou a condenação da Apple por conduta anticompetitiva no ecossistema iOS.38 Em decisões anteriores, o conselho multou um cartel de combustíveis em mais de R$ 150 milhões no Distrito Federal (02/07) e assinou seis acordos em investigações antitruste, totalizando mais de R$ 214 milhões em contribuições financeiras (27/06).38 Além disso, o CADE aprovou condicionalmente aquisições como DaVita/Brasnefro e Unimed/Hospital Policlínica Cascavel, e recomendou remédios para a aquisição da Wickbold pela Bimbo.38 O volume de transações notificadas ao CADE aumentou 25% no primeiro trimestre de 2025, com destaque para os setores de Energia, Indústria e Agronegócio, indicando um ambiente de fusões e aquisições dinâmico apesar das incertezas.38

 


Conclusões

 

A semana de 14 de julho de 2025 revelou um cenário financeiro e econômico global e doméstico de complexidade e interconexão crescentes. A desaceleração do crescimento global, evidenciada pelos relatórios do Banco Mundial e da UNCTAD, é uma realidade que transcende a mera flutuação cíclica. A persistência de barreiras comerciais e a incerteza política não são apenas riscos teóricos, mas forças ativas que reconfiguram as cadeias de valor e promovem um crescimento desigual, com economias desenvolvidas superando as emergentes em termos de volume de comércio em valor, embora não necessariamente em volume físico. A crescente concentração nos mercados digitais, com a dominância de gigantes da tecnologia e a expansão da inteligência artificial generativa, adiciona uma dimensão estrutural aos desafios competitivos globais.

No âmbito da política monetária internacional, a divergência entre a postura do Federal Reserve, que se mantém cauteloso em relação à inflação e à manutenção de taxas de juros, e o Banco Central Europeu, que já iniciou um ciclo de cortes, cria diferenciais de juros que influenciam diretamente os fluxos de capital. Essa assincronia, somada às tensões políticas entre a Casa Branca e o Fed, introduz uma camada de imprevisibilidade que pode gerar volatilidade inesperada nos mercados de câmbio e de títulos.

Para o Brasil, a semana foi particularmente desafiadora. A retração do IBC-Br sinalizou uma desaceleração econômica doméstica, interrompendo um período de expansão. Embora as projeções de inflação no Boletim Focus tenham mostrado uma leve melhora, elas permanecem acima da meta, justificando a manutenção da taxa Selic em um patamar elevado. Essa combinação de desaceleração e juros altos, mesmo com a implementação de medidas governamentais de estímulo à demanda, cria um dilema para a política econômica, que busca equilibrar o crescimento com o controle inflacionário. A resiliência do mercado de trabalho tem sido um fator mitigador, mas a trajetória futura dependerá da capacidade de gerenciar essa complexa interdependência.

O ponto focal da semana foi, inegavelmente, a escalada protecionista de Donald Trump, com a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e a ameaça de tarifas mais amplas sobre o bloco BRICS. Essa estratégia vai além de objetivos puramente econômicos, funcionando como uma ferramenta de pressão geopolítica para redefinir alianças e influenciar políticas internas. O impacto potencial sobre o PIB, o câmbio, a inflação e os juros no Brasil é significativo, especialmente para os setores de produtos industrializados. A resposta brasileira, através da regulamentação da Lei de Reciprocidade Econômica e da criação de um comitê interministerial para negociar e mobilizar o setor privado, representa uma mudança estratégica em direção a uma postura mais assertiva e institucionalizada na defesa dos interesses comerciais do país. Essa abordagem, que busca envolver inclusive empresas americanas afetadas pelas tarifas, demonstra uma diplomacia sofisticada que visa criar pressão interna nos EUA para mitigar os danos.

Em suma, o cenário atual exige uma análise contínua e aprofundada das interações entre políticas comerciais, monetárias e fiscais em escala global e doméstica. A volatilidade persistirá enquanto as incertezas geopolíticas e as pressões inflacionárias não se dissiparem, demandando dos stakeholders do mercado financeiro uma capacidade de adaptação e uma visão estratégica para navegar por um ambiente cada vez mais complexo e interdependente.

 


Fontes

 

Referências citadas

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  43. Ibovespa B3 bate recorde histórico de 141 mil pontos; Felipe Corleta repercute valores do mercado - YouTube, acessado em julho 15, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=5yKIWDO_Wbs

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