Existe a possibilidade do Brasil ser taxado em 100% pelos EUA ?
Resumo
A economia global em meados de 2025 navega por um cenário complexo, caracterizado por uma desaceleração do crescimento, tendências inflacionárias divergentes e uma incerteza política considerável, especialmente decorrente das tensões comerciais. As principais autoridades monetárias, em geral, estão a caminho de flexibilizar as suas políticas, mas a trajetória do Federal Reserve dos EUA permanece uma exceção notável, influenciando os fluxos de capital e a dinâmica cambial em todo o mundo.
Os temas centrais que dominam o ambiente financeiro incluem a desaceleração do crescimento global, uma inflação persistente mas em moderação (com uma divergência significativa nos EUA), políticas de bancos centrais contrastantes e o impacto generalizado de incertezas geopolíticas e relacionadas ao comércio nos mercados de commodities e no sentimento dos investidores. Essas dinâmicas criam um ambiente desafiador para os participantes do mercado, exigindo estratégias diferenciadas para navegar pelas disparidades regionais em crescimento, inflação e trajetórias de taxas de juros.
Cenário Econômico Global: Contexto para Meados de Julho de 2025
O ambiente macroeconômico global em meados de 2025 é moldado por uma série de projeções e riscos que influenciam diretamente a performance dos mercados financeiros. A análise das perspectivas de crescimento, das tendências inflacionárias e dos riscos subjacentes revela um quadro de complexidade e incerteza.
Projeções de Crescimento Global: Uma Trajetória de Desaceleração
As projeções para o crescimento global em 2025 apresentam uma notável divergência entre as principais instituições econômicas, refletindo diferentes avaliações sobre a severidade e o impacto dos ventos contrários globais.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), em seu World Economic Outlook de abril de 2025, projeta um crescimento global de 3,3% tanto para 2025 quanto para 2026. Este número permanece amplamente inalterado em relação à previsão de outubro de 2024, com uma revisão para cima nos Estados Unidos compensando revisões para baixo em outras grandes economias. O relatório de abril de 2025 do FMI descreve o período como uma "Conjuntura Crítica em Meio a Mudanças de Política", enfatizando a intensificação dos riscos de baixa.1
Em contraste, o Banco Mundial, em seu relatório Global Economic Prospects de junho de 2025, apresenta uma perspectiva mais cautelosa. A instituição projeta uma desaceleração significativa do crescimento global para 2,3% em 2025. Esta previsão é quase meio ponto percentual inferior às expectativas iniciais no início do ano e representa o ritmo mais lento desde 2008, excluindo períodos de recessões globais diretas. O relatório destaca que as previsões de crescimento foram cortadas para quase 70% de todas as economias, abrangendo várias regiões e grupos de renda.3
A Morgan Stanley, em sua perspectiva econômica de meados de 2025 (maio de 2025), prevê que a expansão econômica global enfraquecerá para uma taxa anual média de 2,9% em 2025, uma desaceleração notável em relação ao crescimento de 3,3% observado em 2024. Essa desaceleração é atribuída principalmente ao "choque de tarifas mais altas nos EUA, que devem restringir a demanda em todo o mundo", estabelecendo uma ligação causal direta entre a política comercial e o desempenho econômico global.4
A diferença nas projeções de crescimento global entre o FMI (3,3%), o Banco Mundial (2,3%) e a Morgan Stanley (2,9%) reflete distintas avaliações sobre a força e a persistência dos desafios globais. Enquanto o FMI mantém uma visão relativamente estável, o Banco Mundial e a Morgan Stanley, com atualizações mais recentes (maio/junho de 2025), parecem incorporar um impacto negativo mais pronunciado das tensões comerciais e da incerteza política em suas previsões. Essa disparidade indica que a magnitude do impacto da guerra comercial na economia é uma área-chave de desacordo e uma fonte primária de incerteza econômica global em meados de 2025. Essa incerteza, por sua vez, influenciará diretamente a confiança dos investidores e as decisões de alocação de capital.
Tendências Inflacionárias Globais: Caminho Desinflacionário com Exceções Importantes
A trajetória da inflação global em 2025 é marcada por um caminho desinflacionário geral, mas com exceções notáveis, especialmente nos Estados Unidos.
O FMI, em sua atualização de janeiro de 2025, espera que a inflação global caia para 4,2% em 2025, continuando a tendência desinflacionária observada.2 O Banco Mundial, em junho de 2025, projeta que a inflação global terá uma média de 2,9% em 2025. Embora seja um declínio em relação aos picos anteriores, esse número permanece acima dos níveis pré-pandêmicos, parcialmente atribuído aos efeitos persistentes do aumento de tarifas e dos mercados de trabalho apertados.3
A Morgan Stanley, em maio de 2025, prevê que a inflação provavelmente continuará a perder força globalmente, desacelerando para 2,1% em 2025 (abaixo dos 2,4% em 2024). Essa desaceleração global é impulsionada por fatores como demanda mais fraca, apreciação cambial e preços mais baixos do petróleo. No entanto, os EUA são identificados como um ponto fora da curva significativo para essa tendência global.4
A ampla gama de projeções de inflação global para 2025 (de 2,1% a 4,2%) sinaliza diferentes premissas sobre a persistência de problemas de oferta, o impacto da desaceleração da demanda e a transmissão das políticas comerciais. A previsão mais baixa da Morgan Stanley (excluindo os EUA) sugere uma forte convicção nas forças desinflacionárias fora dos EUA, possivelmente devido à demanda global mais fraca e à apreciação cambial. Essa divergência implica diferentes graus de urgência para os bancos centrais fora dos EUA flexibilizarem a política monetária, o que levará a diferentes caminhos de taxas de juros e implicações para os fluxos de capital. Para os mercados financeiros, isso significa que, embora a tendência geral seja desinflacionária, o ritmo e as variações regionais são altamente incertos, impactando a alocação de ativos e as estratégias de hedge.
Principais Riscos e Incertezas Moldando o Panorama Global
Vários riscos e incertezas persistem, moldando o panorama econômico global e influenciando as decisões de investimento.
Tensões Comerciais e Protecionismo: As tensões comerciais elevadas e o protecionismo dos EUA são consistentemente citados por várias fontes como os principais impulsionadores da desaceleração do crescimento global e do aumento da incerteza política. O Banco Mundial observa especificamente que a resolução das atuais disputas comerciais com acordos que reduzam as tarifas pela metade poderia levar a um crescimento global 0,2 ponto percentual mais forte em média em 2025 e 2026, sublinhando o impacto quantificável dessas políticas.3 A atribuição causal explícita e consistente em várias fontes respeitáveis indica que a política comercial, particularmente o protecionismo dos EUA, não é meramente um risco de fundo, mas um determinante dominante e ativo da trajetória econômica global em 2025. Isso implica que quaisquer mudanças na política comercial (por exemplo, resolução de disputas, nova escalada) poderiam alterar rapidamente as perspectivas de crescimento global, tornando as negociações comerciais e os desenvolvimentos políticos relacionados fatores críticos de movimento do mercado em meados de julho de 2025.
Incerteza Política: Além do comércio, a incerteza política geral é um risco generalizado em toda a economia global. O FMI destaca que "as incertezas atingem novos patamares" 1 e que a "incerteza política elevada" complica a normalização da política monetária e aumenta a perspectiva de "taxas de juros mais altas por mais tempo".1 Essa incerteza afeta as decisões de investimento e a confiança do consumidor.1
Sustentabilidade Fiscal: O aumento dos déficits públicos e o acúmulo de dívida federal nas principais economias, particularmente nos Estados Unidos (déficit projetado de US$ 1,9 trilhão em 2025, dívida subindo para 118% do PIB até 2035) e na Alemanha (déficit potencialmente o mais alto desde 1990), representam riscos significativos de médio prazo. Embora não seja uma crise imediata, essas tendências podem impactar a confiança dos investidores a longo prazo e a credibilidade soberana.4
Desafios Geopolíticos: O Global Risks Report 2025 do Fórum Econômico Mundial revela um cenário global cada vez mais fragmentado, caracterizado pela escalada de desafios geopolíticos, ambientais, sociais e tecnológicos que ameaçam a estabilidade e o progresso. Embora o relatório enfatize a presença desses riscos, as informações fornecidas não detalham seus impactos específicos e quantificáveis nos mercados financeiros.7
A tabela a seguir oferece uma visão comparativa das projeções econômicas globais para 2025, destacando as divergências nas perspectivas das principais instituições e a complexidade inerente ao panorama econômico de meados de 2025. Essa representação visual é fundamental para compreender a amplitude das opiniões de especialistas e as áreas de maior incerteza, auxiliando na tomada de decisões estratégicas.
Tabela 1: Projeções Econômicas Globais Comparativas para 2025 (Crescimento do PIB, Inflação)
Indicador |
Região/Entidade |
Fonte |
Data da Previsão/Atualização |
Projeção |
Crescimento do PIB (%) |
Global |
FMI |
Abril 2025 |
3.3% |
Crescimento do PIB (%) |
Global |
Banco Mundial |
Junho 2025 |
2.3% |
Crescimento do PIB (%) |
Global |
Morgan Stanley |
Maio 2025 |
2.9% |
Crescimento do PIB (%) |
Estados Unidos |
CBO |
Janeiro 2025 |
1.9% |
Crescimento do PIB (%) |
Estados Unidos |
Morgan Stanley |
Maio 2025 |
1.5% |
Crescimento do PIB (%) |
Estados Unidos (T2) |
Atlanta Fed (GDPNow) |
Julho 2025 |
2.6% |
Crescimento do PIB (%) |
Euro Zona |
Morgan Stanley |
Maio 2025 |
1.0% |
Crescimento do PIB (%) |
China |
Morgan Stanley |
Maio 2025 |
4.5% |
Crescimento do PIB (%) |
Japão |
Morgan Stanley |
Maio 2025 |
1.0% |
Crescimento do PIB (%) |
Índia |
Morgan Stanley |
Maio 2025 |
5.9% |
Crescimento do PIB (%) |
México |
Morgan Stanley |
Maio 2025 |
Estagnação |
Crescimento do PIB (%) |
Brasil |
BBVA Research |
Junho 2025 |
2.2% |
Crescimento do PIB (%) |
Brasil |
Ministério da Fazenda |
Julho 2025 |
2.5% |
Inflação Global (%) |
Global |
FMI |
Janeiro 2025 |
4.2% |
Inflação Global (%) |
Global |
Banco Mundial |
Junho 2025 |
2.9% |
Inflação Global (%) |
Global (ex-EUA) |
Morgan Stanley |
Maio 2025 |
2.1% |
Inflação (%) |
Estados Unidos (PCE) |
CBO |
Janeiro 2025 |
Desaceleração |
Inflação (%) |
Estados Unidos (Pico T3) |
Morgan Stanley |
Maio 2025 |
3.0%-3.5% |
Inflação (%) |
Brasil |
BBVA Research |
Junho 2025 |
5.0% (Dez/25) |
Contexto de Desempenho do Mercado: 15 de Julho de 2025
Tivemos no dia de ontem, 15/07/2025 o Ibovespa desvalorizando -0,03 aos 135.250,10 pontos. Já o Dólar, teve um desempenho de queda de -0,46, cotado a R$5,55. O principal índice de ações dos EUA, o SP500 também fechou em queda de -0,40 aos 6.243,76 pontos.
Dinâmica do Ibovespa: Navegando pela Política Doméstica e Ventos Contrários Globais
O desempenho do Ibovespa em 15 de julho de 2025 seria moldado pela interação da desaceleração econômica doméstica, a perspectiva de uma futura, embora cautelosa, flexibilização monetária e as persistentes incertezas fiscais. Além disso, as tensões comerciais globais e a trajetória dos preços das commodities (especialmente para as principais exportações brasileiras, como minério de ferro e produtos agrícolas) exerceriam influência significativa no sentimento dos investidores e nos fluxos de capital para o mercado brasileiro.
A perspectiva econômica para o Brasil em 2025 indica uma desaceleração do crescimento do PIB em comparação com 2024. A BBVA Research (junho de 2025) projeta uma desaceleração para 2,2% de crescimento para 2025.8 No entanto, o Ministério da Fazenda do Brasil (julho de 2025) apresentou recentemente uma perspectiva ligeiramente mais otimista, elevando sua previsão de PIB para 2025 para 2,5% de uma estimativa anterior de 2,4%, citando a força da atividade econômica no primeiro trimestre de 2025.9 Essa revisão ascendente para 2025, apesar da política monetária restritiva em curso, sugere um grau de resiliência na demanda doméstica ou uma avaliação governamental mais otimista dos impulsionadores econômicos de curto prazo. No entanto, essa perspectiva é matizada pela revisão descendente simultânea para 2026, explicitamente atribuída aos efeitos contínuos da política monetária apertada, implicando que a força atual pode ser antecipada ou insustentável sem ajustes de política adicionais.
A inflação no Brasil deve diminuir gradualmente, projetada para atingir 5,0% em dezembro de 2025. Essa tendência desinflacionária deve ser apoiada pelo abrandamento da demanda doméstica, preços mais baixos das commodities e um real brasileiro mais forte. O ciclo de aperto monetário iniciado pelo Banco Central do Brasil está amplamente concluído, e embora um ciclo de flexibilização possa começar no final de 2025, a taxa Selic provavelmente permanecerá em um nível relativamente alto, acima da taxa neutra estimada em torno de 10%.8
Os riscos fiscais persistentes continuam sendo uma preocupação para o Brasil, decorrentes de problemas estruturais não abordados e da incerteza contínua em relação ao compromisso do governo com a consolidação fiscal. Apesar desses riscos, o cenário mais provável previsto pela BBVA Research é um enfraquecimento do impulso fiscal, o cumprimento das metas ajustadas e a prevenção de uma crise fiscal completa.8
Para o Ibovespa, a revisão ascendente de julho para o crescimento de 2025 poderia proporcionar um impulso temporário ao sentimento do mercado, sugerindo uma resiliência econômica de curto prazo melhor do que o esperado. Isso poderia atrair capital de curto prazo. No entanto, a revisão descendente simultânea para 2026, explicitamente ligada à política monetária restritiva, sinaliza que os desafios estruturais subjacentes e o ambiente político restritivo continuam a pesar sobre a perspectiva de médio prazo. Isso implica que qualquer reação positiva às revisões de crescimento de 2025 pode ser atenuada por preocupações com a sustentabilidade do crescimento e o impacto de longo prazo de altas taxas de juros e riscos fiscais, levando a uma potencial volatilidade à medida que os investidores ponderam os ganhos de curto prazo em relação aos ventos contrários de médio prazo.
Desempenho do Dólar Americano: O Nexus de Políticas Divergentes e Incerteza Global
O desempenho do Dólar Americano seria criticamente influenciado pela interação de fatores conflitantes dentro da economia dos EUA e pelas políticas monetárias globais divergentes.
O cenário econômico dos EUA em meados de 2025 apresenta um quadro misto e um tanto contraditório. A estimativa do modelo GDPNow do Federal Reserve de Atlanta (julho de 2025) indica um robusto crescimento real do PIB de 2,6% para o segundo trimestre de 2025.10 No entanto, as previsões para o ano inteiro de outras instituições são notavelmente mais baixas: o Congressional Budget Office (CBO) (janeiro de 2025) projeta um arrefecimento para 1,9% para 2025 6, enquanto a Morgan Stanley (maio de 2025) é mais pessimista, prevendo um crescimento de 1,5%.4 Essa divergência sugere diferentes visões sobre a força e a trajetória subjacentes da economia dos EUA.
Uma divergência fundamental também existe nas perspectivas de inflação dos EUA. O CBO espera que o crescimento geral dos preços desacelere ligeiramente em 2025, convergindo gradualmente para a meta de longo prazo de 2% do Federal Reserve até 2027.6 Em contraste, a Morgan Stanley prevê que a inflação dos EUA acelerará e atingirá um pico entre 3% e 3,5% no terceiro trimestre de 2025, atribuindo isso principalmente à transmissão dos custos relacionados a tarifas e a possíveis escassez de mão de obra devido a restrições de imigração.4
Essa divergência nas perspectivas de inflação impacta diretamente as expectativas para a política do Federal Reserve, criando uma incerteza significativa no mercado. O CBO projeta reduções contínuas da taxa até o final de 2026.6 No entanto, a Morgan Stanley espera que o Fed mantenha as taxas estáveis até março de 2026, priorizando a contenção da inflação em detrimento do emprego devido às antecipadas pressões de preços induzidas por tarifas.4 Adicionando à complexidade, a Cambridge Associates (dezembro de 2024) indicou que o Fed já havia iniciado um ciclo de flexibilização com um corte de 50 pontos-base em setembro de 2024 11, enquanto a Forex.com (julho de 2025) sugere cautelosamente que o Fed "parece estar a caminho de reduzir" as taxas no segundo semestre de 2025.12
A tensão central para o Dólar Americano reside nas perspectivas divergentes sobre a inflação nos EUA e a política do Fed. Se o cenário de inflação impulsionada por tarifas da Morgan Stanley se mostrar preciso, a postura de "taxas mais altas por mais tempo" do Fed criaria um diferencial de taxa de juros significativo com outras grandes economias, levando a uma força sustentada do Dólar Americano. Isso teria efeitos em cascata no comércio global (tornando as exportações dos EUA mais caras), nos preços das commodities (tipicamente uma relação inversa com um dólar forte) e nos fluxos de capital para ativos dos EUA. Essa dinâmica poderia exacerbar as preocupações com o crescimento global e os desequilíbrios comerciais. Um cenário de Fed "mais alto por mais tempo", impulsionado por uma inflação persistente induzida por tarifas, provavelmente apoiaria um dólar mais forte, particularmente contra moedas onde os bancos centrais estão flexibilizando mais agressivamente (por exemplo, BCE, BoE). Por outro lado, um Fed mais dovish (como implícito pelo CBO e pela avaliação anterior da Cambridge Associates) exerceria pressão de baixa sobre o dólar. A aversão ao risco global, alimentada pelas tensões comerciais e incertezas geopolíticas em curso, também favoreceria tipicamente o dólar como porto seguro, proporcionando um suporte de base.
Trajetória do S&P500: Navegando pela Desaceleração do Crescimento e Encruzilhadas da Política Monetária
A performance do S&P500 em meados de julho de 2025 estaria intrinsecamente ligada à trajetória do crescimento econômico dos EUA e suas implicações para os lucros corporativos. Embora a estimativa do GDPNow do Federal Reserve de Atlanta para o segundo trimestre de 2025 mostre resiliência em 2,6% 10, as previsões para o ano inteiro do CBO (1,9%) 6 e da Morgan Stanley (1,5%) 4 sugerem uma desaceleração notável na atividade econômica para o restante do ano. Tal desaceleração poderia pesar diretamente sobre o crescimento da receita corporativa e a lucratividade, impactando as avaliações de ações.
A influência do Federal Reserve é primordial para o S&P500. Uma postura prolongada de "taxas mais altas por mais tempo", conforme projetado pela Morgan Stanley devido à inflação induzida por tarifas, poderia limitar as avaliações de ações, aumentando a taxa de desconto para lucros futuros e elevando os custos de empréstimos corporativos. Por outro lado, um caminho claro e sustentado para cortes de taxas, conforme implícito pelo CBO e pelas avaliações anteriores da Cambridge Associates, geralmente seria favorável para as ações, reduzindo os custos de financiamento e impulsionando a confiança dos investidores.4
A projeção da Morgan Stanley de aceleração da inflação nos EUA devido a tarifas 4 introduz uma dinâmica complexa para as margens corporativas. Se as empresas não conseguirem repassar totalmente esses custos aumentados, a lucratividade poderá ser espremida. Se o fizerem, isso poderá diminuir a demanda do consumidor. A incerteza em torno do impacto preciso das tarifas em setores específicos, cadeias de suprimentos e lucratividade corporativa geral seria uma preocupação fundamental para os investidores do S&P500, potencialmente levando à volatilidade setorial.
A trajetória do S&P500 está profundamente interligada à resolução do dilema da política do Fed – especificamente, se o banco central priorizará a contenção da inflação (especialmente se as tarifas se mostrarem inflacionárias) ou mudará o foco para apoiar o crescimento em meio a uma desaceleração. A divergência na opinião de especialistas sobre isso (a "manutenção" da Morgan Stanley versus os "cortes de taxas" do CBO/Cambridge Associates) cria uma volatilidade e incerteza significativas para os mercados de ações. Se as tarifas de fato levarem a uma inflação persistente (visão da Morgan Stanley), o S&P500 enfrenta um duplo golpe de crescimento mais lento e taxas de juros mais altas por mais tempo, desafiando os múltiplos de avaliação atuais e potencialmente levando a uma correção de mercado. A projeção do CBO de um déficit orçamentário federal substancial (US$ 1,9 trilhão em 2025) e o aumento da dívida federal (para 118% do PIB até 2035) 6 poderiam introduzir preocupações com a sustentabilidade fiscal na narrativa do mercado. Embora o impacto imediato no mercado possa ser atenuado, a menos que surja uma crise específica, essas tendências fiscais de longo prazo podem impactar a confiança dos investidores e o custo do capital ao longo do tempo.
Principais Desenvolvimentos Econômicos e Financeiros: Moldando o Panorama para 16 de Julho de 2025
Os desenvolvimentos econômicos e financeiros que moldam o panorama para 16 de julho de 2025 são complexos e interconectados, com as políticas dos bancos centrais e as tendências do mercado de commodities desempenhando papéis centrais.
Mudanças na Política dos Bancos Centrais e Perspectivas das Taxas de Juros
A trajetória da política monetária do Federal Reserve continua sendo o fator mais crítico e debatido para os mercados financeiros globais. Persistem visões conflitantes: o CBO (janeiro de 2025) projeta reduções contínuas da taxa até o final de 2026, apoiando o crescimento econômico.6 No entanto, a Morgan Stanley (maio de 2025) espera que o Fed mantenha as taxas estáveis até março de 2026, principalmente devido à inflação antecipada induzida por tarifas e à possível escassez de mão de obra.4 A Cambridge Associates (dezembro de 2024) havia indicado anteriormente que o Fed iniciou um ciclo de flexibilização em setembro de 2024 11, enquanto a Forex.com (julho de 2025) observa que o Fed "parece estar a caminho de reduzir" as taxas no segundo semestre de 2025.12 Essa divergência fundamental na opinião de especialistas sobre o caminho do Fed é uma fonte primária de incerteza do mercado.
Em contraste com os EUA, tanto o Banco Central Europeu (BCE) quanto o Banco da Inglaterra (BoE) são amplamente esperados para continuar seus ciclos de flexibilização em 2025. Eles têm menos distância para flexibilizar para atingir suas taxas neutras estimadas em comparação com o Fed. A Morgan Stanley prevê que o BCE levará sua taxa de política para 1,50% até dezembro de 2025, impulsionado pela queda da inflação, crescimento fraco e um euro mais forte. Os mercados estão precificando uma flexibilização significativa para a zona do euro (cerca de 148 pontos-base) e para o Reino Unido (cerca de 85 pontos-base).4
O Banco do Japão (BoJ) permanece um ponto fora da curva entre os principais bancos centrais. Ele sinalizou um compromisso de aumentar gradualmente as taxas de política, movendo-se na direção oposta de seus homólogos ocidentais. Essa postura é influenciada pela pressão inflacionária contínua, que é exacerbada por uma moeda fraca e um crescimento econômico lento no Japão.11
A divergência nas trajetórias da política monetária entre os principais bancos centrais é um tema central, criando um ambiente monetário global de múltiplas velocidades. Essa divergência é um impulsionador primário da volatilidade cambial e da realocação de capital em 2025, à medida que os investidores buscam rendimento e crescimento em diferentes regiões. Se o Federal Reserve dos EUA de fato mantiver as taxas mais altas por mais tempo devido a tarifas, enquanto o BCE e o BoE cortarem as taxas devido ao crescimento mais fraco e à desinflação, o diferencial de taxa de juros se ampliará significativamente. Isso provavelmente fortalecerá o Dólar Americano em relação ao Euro e à Libra, impactando a competitividade comercial e potencialmente levando a saídas de capital da Europa para os EUA. Por outro lado, o aperto do BoJ, embora menor, também criaria uma dinâmica única para o Iene. Esse ambiente de política monetária de múltiplas velocidades significa que os investidores devem ser altamente seletivos, considerando não apenas os retornos absolutos, mas também as estratégias de hedge cambial e as negociações de valor relativo em diferentes mercados, já que o custo do capital e a atratividade do investimento variarão significativamente por região.
Pressões Inflacionárias Globais e Tendências do Mercado de Commodities
Os mercados globais de commodities estão amplamente sob pressão em 2025. Isso é amplamente atribuído à confluência de tensões comerciais crescentes, protecionismo dos EUA e uma desaceleração geral do crescimento econômico global, que coletivamente diminuem a demanda por matérias-primas.5
Preços do Petróleo: Os preços do petróleo estão notavelmente em uma baixa de 4 anos no segundo trimestre de 2025 e devem permanecer sob pressão.5 Isso se deve a uma superoferta (a OPEP+ aumentou a produção em maio e junho, revertendo cortes voluntários anteriores, e países não-OPEP+ também continuam a aumentar a produção) e a uma demanda mais fraca, impulsionada pelo protecionismo dos EUA e pela incerteza política global.5 Os futuros indicam uma queda para uma média de US$ 66,9 por barril em 2025, uma redução de 15,5%, antes de cair para US$ 62,4 em 2026.13
Gás Natural: Os preços globais do gás natural subiram no primeiro trimestre de 2025, impulsionados pela forte demanda e interrupções no fornecimento nos EUA, onde os preços quase dobraram ano a ano. Os preços europeus também subiram, embora mais moderadamente, em meio a baixos estoques. No entanto, os mercados de futuros sugerem que os preços do Gás Natural Liquefeito (GNL) diminuirão para uma média de US$ 12,5 por MMBtu em 2025, caindo constantemente para US$ 7,8 por MMBtu em 2030.5
Metais: Os preços dos principais metais industriais mostraram uma tendência de queda no segundo trimestre de 2025, resultado da mudança na política comercial dos EUA e do temor de guerras comerciais. As tarifas comerciais adicionais dos EUA sobre a China afetaram negativamente as atividades econômicas e manufatureiras na China, o maior consumidor mundial de metais.5 No entanto, espera-se que os preços se recuperem no terceiro trimestre de 2025, apoiados pela flexibilização da política monetária nas maiores economias e pela recuperação da atividade nos setores automotivo, de construção e eletrônicos, bem como por estímulos fiscais na UE.5 Apesar disso, o crescimento dos preços dos metais ao longo de 2025 deve ser geralmente "anêmico" devido à incerteza do comércio global.5
Commodities Alimentícias: Os preços das commodities alimentícias enfrentam pressão de baixa, impulsionados por uma produção global robusta, restrições à exportação mais brandas e uma perspectiva econômica mais fraca. Os preços dos grãos, em particular, diminuíram devido a preocupações com a demanda. Condições climáticas favoráveis em regiões-chave de cultivo aliviaram ainda mais os riscos de oferta que anteriormente sustentavam os preços.5 No entanto, eventos climáticos extremos e o aumento dos custos de fertilizantes representam riscos de alta notáveis.5
Os mercados de commodities são um campo de batalha entre a fraqueza do lado da demanda (desaceleração global, protecionismo) e a dinâmica do lado da oferta (OPEP+, clima). A política comercial dos EUA desempenha um papel significativo, criando volatilidade e influenciando as tendências de preços, o que, por sua vez, impacta a inflação e os custos corporativos globalmente. A política comercial dos EUA molda diretamente os preços dos metais e indiretamente afeta o petróleo e os alimentos por meio da demanda.
Considerações Finais: Navegando em um Cenário Fraturado e Incerto
O panorama econômico e financeiro global em meados de julho de 2025 é caracterizado por uma intrincada teia de forças que exigem uma análise e uma estratégia de investimento diferenciadas. A desaceleração do crescimento global, embora com nuances regionais, é uma realidade inegável, com instituições de renome apresentando projeções que, embora divergentes em magnitude, apontam para um arrefecimento da atividade econômica. Essa desaceleração é amplamente impulsionada pelas tensões comerciais e pelo protecionismo, que se manifestam como um determinante ativo e quantificável do desempenho econômico global.
A dinâmica inflacionária apresenta um quadro igualmente complexo. Embora a tendência geral seja de desinflação em muitas partes do mundo, os Estados Unidos se destacam como uma exceção notável, com projeções de inflação acelerada devido a fatores como tarifas. Essa divergência de inflação, por sua vez, alimenta as diferentes abordagens dos bancos centrais em relação à política monetária. O Federal Reserve dos EUA enfrenta um dilema, com opiniões de especialistas divididas sobre se priorizará a contenção da inflação (potencialmente mantendo as taxas mais altas por mais tempo) ou apoiará o crescimento por meio de cortes de juros. Em contraste, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra estão em um caminho mais claro de flexibilização, enquanto o Banco do Japão se move na direção oposta, de aperto gradual.
Essa divergência nas políticas monetárias é um tema central, gerando implicações significativas para os fluxos de capital globais, as avaliações cambiais e a atratividade relativa dos investimentos entre as regiões. Um dólar americano potencialmente mais forte, impulsionado por diferenciais de taxas de juros, pode ter efeitos em cascata no comércio internacional e nos preços das commodities.
Os mercados de commodities, por sua vez, refletem essa batalha entre a demanda global enfraquecida e as complexas dinâmicas de oferta, com a política comercial dos EUA exercendo uma influência considerável sobre os preços do petróleo, metais e alimentos. A incerteza política e as preocupações com a sustentabilidade fiscal em grandes economias adicionam camadas de risco que, embora não necessariamente imediatas, podem minar a confiança dos investidores a longo prazo.
Em suma, o cenário de meados de 2025 é de incerteza elevada e interconexões profundas. Os participantes do mercado precisam de estratégias adaptativas e de uma compreensão aprofundada das disparidades regionais e das forças subjacentes que impulsionam o crescimento, a inflação e as decisões de política monetária. A capacidade de discernir qual narrativa econômica prevalecerá – seja a de uma desaceleração controlada com flexibilização monetária ou a de uma inflação persistente que restringe a ação dos bancos centrais – será fundamental para navegar com sucesso neste ambiente desafiador.
Fontes
-
8
https://www.bbvaresearch.com/en/publicaciones/brazil-economic-outlook-june-2025/ -
2
https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2025/01/17/world-economic-outlook-update-january-2025 -
4
https://www.morganstanley.com/insights/articles/economic-outlook-midyear-2025 -
11
https://www.cambridgeassociates.com/insight/2025-outlook-interest-rates/ -
12
https://www.forex.com/en-us/news-and-analysis/2025-2h-central-bank-outlook/ -
13
https://www.imf.org/-/media/Files/Publications/WEO/2025/April/English/commodityspecialfeature.ashx -
7
https://www.weforum.org/publications/global-risks-report-2025/ -
11
https://www.cambridgeassociates.com/insight/2025-outlook-interest-rates/ -
8
https://www.bbvaresearch.com/en/publicaciones/brazil-economic-outlook-june-2025/ -
4
https://www.morganstanley.com/insights/articles/economic-outlook-midyear-2025 -
7
https://www.weforum.org/publications/global-risks-report-2025/ -
11
https://www.cambridgeassociates.com/insight/2025-outlook-interest-rates/
Referências citadas
-
World Economic Outlook - All Issues - International Monetary Fund (IMF), acessado em julho 16, 2025, https://www.imf.org/en/Publications/WEO
-
World Economic Outlook Update, January 2025: Global Growth: Divergent and Uncertain, acessado em julho 16, 2025, https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2025/01/17/world-economic-outlook-update-january-2025
-
Global Economy Set for Weakest Run Since 2008 Outside of ..., acessado em julho 16, 2025, https://www.worldbank.org/en/news/press-release/2025/06/10/global-economic-prospects-june-2025-press-release
-
Global Economic Outlook 2025: A Widespread Growth Slowdown ..., acessado em julho 16, 2025, https://www.morganstanley.com/insights/articles/economic-outlook-midyear-2025
-
Commodity Market Outlook Q2 2025 - Euromonitor.com, acessado em julho 16, 2025, https://www.euromonitor.com/article/commodity-market-outlook-q2-2025-weaker-demand-outlook-amid-policy-uncertainty-to-cap-price-growth
-
The Budget and Economic Outlook: 2025 to 2035 | Congressional ..., acessado em julho 16, 2025, https://www.cbo.gov/publication/60870
-
Global Risks Report 2025 | World Economic Forum, acessado em julho 16, 2025, https://www.weforum.org/publications/global-risks-report-2025/
-
Brazil Economic Outlook. June 2025 | BBVA Research, acessado em julho 16, 2025, https://www.bbvaresearch.com/en/publicaciones/brazil-economic-outlook-june-2025/
-
Brazil's finance ministry raises 2025 GDP growth forecast to 2.5% By ..., acessado em julho 16, 2025, https://www.investing.com/news/economic-indicators/brazils-finance-ministry-raises-2025-gdp-growth-forecast-to-25-93CH-4131953
-
GDPNow - Federal Reserve Bank of Atlanta, acessado em julho 16, 2025, https://www.atlantafed.org/cqer/research/gdpnow
-
2025 Outlook: Interest Rates - Cambridge Associates, acessado em julho 16, 2025, https://www.cambridgeassociates.com/insight/2025-outlook-interest-rates/
-
2025 2H Central Bank Outlook - FOREX.com, acessado em julho 16, 2025, https://www.forex.com/en-us/news-and-analysis/2025-2h-central-bank-outlook/
-
World Economic Outlook, April 2025; Commodity Special Feature - International Monetary Fund (IMF), acessado em julho 16, 2025, https://www.imf.org/-/media/Files/Publications/WEO/2025/April/English/commodityspecialfeature.ashx